quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Inadimplência é barreira a estímulos do BC


A tendência de inadimplência, observada pelo baixo crescimento econômico do País e as altas taxas de juros, aparecem como uma barreira ao pacote de estímulos ao crédito anunciado ontem pelo Banco Central. Especialistas ouvidos pelo DCI avaliam que, embora as medidas facilitem os empréstimos, o alto grau de endividamento das famílias e os consequentes riscos da oferta de crédito deverão manter os bancos conservadores em relação aos empréstimos. 

As medidas do BC, que começarão a valer na próxima segunda-feira, se resumem em duas frentes e têm potencial para injetar R$ 25 bilhões na economia. Um dos estímulos anunciados foi a liberação de mais uma parcela dos compulsórios - depósitos que os bancos são obrigados a deixar parados no Banco Central - para operações de crédito. A autoridade econômica autorizou os bancos a utilizarem até 60% dos compulsórios relativos a depósitos de longo prazo para empréstimos, ampliando em R$ 10 bilhões a carteira de crédito. 

Na segunda frente, o BC estabeleceu em 75% o fator de ponderação de risco (FPR) - espécie de seguro do banco contra calotes - para todas as operações de crédito de varejo. Antes, o índice variava de 75% a 300% dependendo do risco do empréstimo. A medida espera elevar a liquidez do sistema financeiro em R$ 15 bilhões. 

O professor de Macroeconomia da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Silvio Paixão, afirmou que ambas as medidas irão ampliar a oferta de crédito e baratear os custos (juros) dos empréstimos. "Porém, do outro lado, os bancos estão muito mais preocupados com a capacidade de pagamento do tomador de crédito do que com o volume para empréstimo", observou. 

O índice de Basileia - que estipula o volume mínimo de capital que os bancos precisam ter para suportar os riscos de um calote nas operações de crédito - da maioria das instituições financeiras brasileiras está bastante acima do mínimo estabelecido, de 11%. Ou seja, embora os bancos tenham flexibilidade, eles estão cautelosos na realização de empréstimos. 

Segundo o economista do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC), Eduardo Coutinho, a medida do BC visa estimular o crédito a pessoas físicas e pequenas empresas. "Vale saber se o banco vai querer tirar esse compulsório que é remunerado pela Selic [taxa básica de juros] para correr os riscos de inadimplência de um empréstimo no mercado", observou. 

Para o caso de financiamento de automóveis, o BC anunciou ainda que o valor do empréstimo só será deduzido do compulsório se houver aumento em relação à média dos créditos do tipo concedidos em 2013. Paralelamente à medida, o Ministério da Fazenda afirmou que o governo irá facilitar a recuperação de bens financiados com alienação fiduciária. No caso de veículos, o prazo para tomada do automóvel pode cair de sete para dois meses. 

Para a professora de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Virene Matesco, o modelo de crescimento voltado para o consumo está saturado. "Essas medidas poderiam até ter um impacto razoável na economia, mas, dado o esgotamento da capacidade de endividamento das famílias, não deverão surtir efeito", avaliou. A especialista salientou que, devido à incerteza trazida pelo cenário eleitoral, as empresas estão cautelosas com a tomada de crédito. 
"Já as famílias estão endividadas. Com a inflação, elas perderam o poder de compra. Por conta da recessão econômica, as empresas não estão crescendo e os aumentos de salário estão abaixo da inflação. Então, as famílias também estão em espera", analisou. A professora disse, por fim, que a redução do FPR deverá fazer com que os bancos fiquem mais vulneráveis a longo prazo. 


Fonte: GS Notícias

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