quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Quem é Beto Albuquerque, vice de Marina Silva?

Filho de mecânico revelou vocação para a política em vez do sacerdócio e está filiado ao PSB desde 1986

A primeira recordação do padre Albano Bohn sobre Luiz Roberto de Albuquerque é de um Chevette que o guri de Passo Fundo, filho de mecânico, insistia em colocar na estrada em frente da Juventude Franciscana (Jufra) no início da década de 1980. Foi até Campo Grande (MS), certa vez.
— Para o sacerdócio, Beto não tinha vocação, mas para a política... Começou aos 13 anos e logo virou secretário executivo da Jufra no Estado. Mais um pouco, na Bahia, foi eleito secretário nacional — relembra Bohn, hoje pároco em Progresso.

Décadas depois, aos 51 anos, o deputado federal no quarto mandato pilota uma motocicleta Harley-Davidson e a bancada do PSB na Câmara. Difícil saber em qual dos dois faz mais barulho.
– Ele sempre foi de marcar posição. Mesmo dentro do PSB isso tem um preço – avalia um ex-integrante do seu gabinete.
Após abandonar de forma conturbada a Secretaria de Infraestrutura e Logística do governo Tarso Genro e de entregar os cargos na administração Dilma Rousseff, no ano passado, o partido passou a fazer um dos discursos mais contundentes contra as gestões petistas. E Beto era o dono da língua mais ferina contra os ex-aliados.
– Nosso adversário é o Brasil parado, que é a principal proeza do governo Dilma. Com ela, o Brasil empacou – declarava no início do ano.
Enquanto fez parte da base, o socialista tinha o respeito dos líderes e da presidente, que o tratava como Betinho mesmo em acaloradas discussões. Conquistou prestígio ao integrar o núcleo duro da base no Congresso durante o primeiro mandato de Lula (2003-2006), época em que chegou a vice-líder do governo.
Era o tempo em que ele e os colegas Aldo Rebelo (PC do B), Renildo Calheiros (PC do B) e Eduardo Campos (PSB) ditavam a pauta da Câmara. Não raro, eram chamados ao Planalto durante a noite para reuniões com o então ministro da Casa Civil, José Dirceu.
Assim, o gaúcho e Campos estreitaram laços. Quando o pernambucano se elegeu governador, em 2006, Beto se engajou no projeto de gestão do amigo. Passou a levar comitivas do sul a Recife, para mostrar o que o companheiro sonhava estender ao Brasil. Em 2012, apresentou José Ivo Sartori (PMDB) a Campos. Dois anos depois, uniriam palanques no RS.
Perda do filho marcou deputado
O parlamentar sempre foi tido como workaholic. Ficava em Brasília de segunda até quinta-feira à noite, raridade no Congresso. O baque no ritmo de trabalho veio com a doença e a morte do filho, Pietro, que enfrentou a leucemia entre dezembro de 2007 e fevereiro de 2009. Com a experiên­cia traumática, Beto passou a dedicar mais tempo à família. Do primeiro casamento, tem o filho Rafael. Com a atual mulher, Daniela, tem Nina e Luca.
Dois meses após a morte do jovem de 19 anos, seria sancionada a Lei Pietro, que reserva uma semana em dezembro para campanhas de doação de medula óssea. Quando o acidente aéreo com Eduardo comoveu o país, no dia 13, seu fiel escudeiro tuitou que "dor igual" ele só sentira na perda do filho.
Alçado agora a vice de Marina Silva, Beto é filiado ao PSB desde a redemocratização, em 1986. Estava na legenda antes mesmo de Miguel Arraes, que ingressou em 1990. Dele, o partido não espera votos pelo desempenho eleitoral, mas que transmita a Marina a habilidade de ser contestador sem desprezar boas alianças, apesar de divergências ideológicas. No Estado, por exemplo, esperou até o último momento por um aceno de Ana Amélia Lemos (PP), que concorre ao Palácio Piratini.
Após ter o socialista como coordenador de suas duas campanhas à prefeitura de Porto Alegre (2008 e 2012), a deputada Manuela D'Ávila (PC do B) guarda do colega, nos palanques, a postura sempre otimista.
– É um cara sempre bem ­humorado e trabalhador. Não é alguém que teatraliza a política, que fala difícil, isso aproxima o eleitor – diz a deputada.
Fórmula curiosa de afastar o desânimo
Nos últimos meses, Beto usava a si mesmo como exemplo de perseverança para convencer os colegas mais receosos de que Campos não empolgasse. Poderia concorrer a uma reeleição tranquila à Câmara, mas se lançou ao Senado. Pressionado pela polarização entre Lasier Martins (PDT) e Olívio Dutra (PT), costumava dizer:
– Pô, levantem a cabeça. Quero ver alguém mais ferrado do que eu aqui.
Agora, enfrenta nova peleja.


Fonte: Zero Hora

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