Inocente Pedrinho sabia que não era, mas não tinha ideia de que se meteria numa confusão tão grande ao trapacear na tarefa da escola. A professora havia pedido “uma redação de 15 linhas sobre o mundo contemporâneo”. Pedrinho achou o assunto chato e resolveu colar.
Em vez de escrever uma redação nova, o garoto abriu o livro de história e copiou um trecho sobre a Idade Média. Para disfarçar, retirou algumas palavras do texto original e no lugar incluiu três outras que ouvia sempre no noticiário da TV – “governo”, “políticos”, “Estado”. O título ficou o mesmo:
A Idade das Trevas
Esta época sombria caracterizava-se pela grande influência da Igreja do governo sobre a sociedade. Todas as funções administrativas, jurídicas e econômicas eram coordenadas pelos clérigos políticos e funcionários da Igreja do governo, que tinham direitos especiais diante do resto dos cidadãos. O poder se concentrava nas mãos deles e dos senhores feudais que os apoiavam.
Em nome de Cristo do Estado, os clérigos os políticos obtiveram espaço para expandir seu império da fé. Objetivando um lugar no paraíso, a Igreja o governo instruía os fiéis a não pecarem. A época se destaca pela criação de milhares de normas que regulavam até mesmo o que as pessoas poderiam ingerir. Algumas substâncias, consideradas malditas, eram proibidas – e quem ousasse ingeri-las poderia ficar preso por muitos anos em horríveis calabouços.
A caridade estava diretamente relacionada à doação de bens em nome de Cristo do Estado, a fim de ajudá-lo a prosseguir em sua missão. Tanto os camponeses como os nobres, como forma de se livrarem do que se considerava pecados terrenos, deveriam doar à Igreja ao governo bens materiais, como dinheiro, terras e riquezas. Portanto, o crescimento do poder dessa instituição e o tamanho de sua fortuna estão diretamente relacionados à sua capacidade de convencer os fiéis quanto à sua importância.
Mesmo com a tamanha confiança que as pessoas depositavam na Igreja no governo, guerras e crises econômicas, muitas delas provocadas em nome de Cristo do Estado, são uma constante durante todo esse período.
Na sala da diretoria, Pedrinho percebeu que a professora de Português, a coordenadora educacional, a diretora e principalmente o professor de História e Ciências Sociais não estavam apenas descontentes com ele – pareciam indignados com o que ele havia escrito. O garoto não conseguiu entender o motivo dessa reação, afinal era só uma lição de casa – e ele, menino travesso, já havia feito coisa pior em outras tarefas. Daquela vez, porém, parecia que tinha ofendido algo sagrado. Falando nisso, o texto de Pedrinho terminava assim:
Por muitos anos os fiéis mantiveram a fé de que a Igreja o governo as conduziria a um lugar de eterna paz e felicidade. Aqueles que não acreditavam nos poderes de Cristo do Estado eram considerados hereges. Sofriam perseguições. Viviam sob a ameaça de queimar no fogo do Inferno.
Por Leandro Narloch
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