Com a presidente Dilma em queda livre, a pergunta que se faz é sobre quem desaparecerá primeiro, se ela ou o Brasil. Madame, muito provavelmente. A menos que mude o ministério inteiro e encontre um novo modelo para o país e para o seu governo, em tudo e por tudo diverso do atual. Melhor dizendo, deve preencher o vazio em que se transformou seu segundo mandato. Porque nem o assistencialismo esgotado de hoje servirá para sustentar as instituições em frangalhos. Para cada lado que se volte há reclamações, protestos, carência e indignação. Até as elites estrilam, mesmo blindadas por seus privilégios e benesses.
Pode um trabalhador viver com a miséria do salário mínimo? Ou com migalhas um pouco superiores? São mais de 50 milhões de brasileiros nessa situação, metade da força de trabalho ativa no país, mais crianças, velhos, doentes e desempregados, estes aos milhões, apesar da propaganda enganosa. Não haverá solução se ficar no bolsa-família e penduricalhos.
Junte-se a maior carga de impostos do planeta, agora em alta, mais os combustíveis, a eletricidade, a água, os transportes e acima de tudo os gêneros de primeira necessidade, e se terá a receita do esgotamento do sistema que insistem nos impor. Sem falar na vergonha dos serviços de educação e saúde. É a falência do poder público demonstrada pela multiplicação da violência e do crime organizado.
Esse quadro está na raiz dos panelaços e das manifestações cada vez menos pacíficas de indignação popular. Não se trata de centralizar todas as críticas na presidente Dilma, ainda nela repousem as responsabilidades maiores. O mal é do modelo, esgotado quando se desfizeram as últimas esperanças de mudança. Porque até a chegada do PT ao poder, com o Lula, convivia-se com a adversidade por razões históricas e por falta de opção. Elevados os companheiros ao comando nacional, verificou-se a metamorfose do otimismo. Imaginou-se a lenta mas firme construção de uma sociedade diferente, pois aprimorada. Só que aconteceu o contrário: o entusiasmo cedeu lugar à frustração. Mais do que igual, ficou pior. Os governos do primeiro-companheiro foram gradativamente desfazendo as expectativas e despertando sentimentos que a população não possuía ou nem percebia por completo. Com a sucessora e o descalabro do ingresso dos companheiros na busca de cargos e empregos, como denunciou o próprio Lula, somada à escalada da corrupção pública e privada, rompeu-se o dique.
Seria importante, vale repetir, a busca de um novo modelo, mais do que de governar, de sobreviver política, econômica e socialmente. Quebrar as estruturas desse capitalismo selvagem que nos assola, substituindo-as senão pela utopia, ao menos pela extensão dos benefícios da civilização à maioria de marginalizados, humilhados e ofendidos. Por que não multiplicar por quatro o salário mínimo? Proibir altos salários e distribuição de participações especiais para diretores e donos de empresas públicas e privadas? Que tal vetar demissões imotivadas, restabelecendo a estabilidade no emprego? Ou taxar as grandes fortunas e as heranças polpudas? E sobre limitar a remessa de lucros para o exterior, obrigando a reinvestimentos aqui mesmo? Confiscar bens de corruptos, impedir especulações financeiras sem outro objetivo que enriquecer especuladores? Dividir terras inaproveitadas?
Importam menos os rótulos ou as lembranças de experiências passadas e malogradas. Do jeito que está não dá, é o ponto de partida para evitar a desagregação, passo seguinte da frustração.
Por Carlos Chagas
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