quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A narrativa absurda da esquerda que se recusa a aprender com os próprios erros


Se esquerdista aprendesse com a experiência, a esquerda acabava. Afinal, é uma tentativa depois da outra, todas inexoravelmente fracassadas. Mas os utópicos igualitários nunca podem desistir. Como um viciado em crack, eles simplesmente não enxergam possibilidade de vida sem seu ópio. Para eles, abrir mão da utopia é deixar de viver. Para preservar a fantasia, então, ignoram os fatos e se recusam a aprender com os próprios erros.

Já disse e repito: o grande esforço dos liberais deve ser, agora, deixar bem clara a mensagem de que o inferno que estamos enfrentando tem 100% de origem nos equívocos esquerdistas, no nacional-desenvolvimentismo que criou a “nova matriz macroeconômica”, no intervencionismo estatal, na seleção de “campeões nacionais” etc.

Mas os esquerdistas não vão desistir facilmente. Já preparam, agora que o PT afunda de vez, a narrativa que dissocia o lulopetismo da “verdadeira” esquerda. Gente que até ontem estava empolgada com o governo petista, agora se finge surpresa e traída, pois, afinal, o problema do PT é não ter sido esquerda o suficiente. Isso é pura balela!

Só que os socialistas vão insistir nessa tecla, com certeza. Em artigo publicado hoje na Folha, Roberto Amaral, ex-presidente do Partido Socialista Brasileiro, tentou caminhar nessa direção, mas ainda defendendo as “conquistas” do PT no governo:

Partidos do campo da esquerda e até os da base do governo fogem de seu dever político de defesa da presidente Dilma e de seu mandato, enquanto o PSDB, e seu derrotado candidato, pregam, irresponsavelmente, a ruptura constitucional ao apelarem para a esdrúxula convocação de novas eleições. A pregação desse golpismo não contribui para a saída da crise, apenas a aprofunda.

Esse quadro expõe a mediocridade de nossas lideranças políticas, pequeninas, presas no entorno de seus projetos pessoais, mesquinhos, sem qualquer visão de Brasil, sem qualquer consciência de destino, carentes de perspectiva histórica. Alimentam um impasse ao cabo do qual não haverá vencedores.

Sairemos vencidos, mortos nossos sonhos, distantes nossas utopias como a linha do horizonte. A mediocridade faz sua festa.


Ele quer evitar a todo custo a “morte da utopia”, pois ela daria lugar a uma mediocridade reinante. Como se mediocridade não fosse um elogio para a incompetência petista! Como se essa “utopia” já não tivesse nos custado caro demais! É uma insistência espantosa no erro, só para não admitir que sonhou o sonho errado, um pesadelo para os brasileiros.

Mas se Amaral ainda tenta preservar Dilma e o PT, Marcelo Freixo, do PSOL, já ensaia um afastamento maior do governo, para preservar o esquerdismo radical. Em sua coluna de hoje no mesmo jornal, ele parece acreditar que os problemas causados pelo governo petista são fruto do afastamento do ideal igualitário, e não de sua visão intervencionista típica da esquerda:

Por isso, apesar dos acordos eleitorais, o futuro da gestão não estava determinado, mas em disputa. Foi ao longo do mandato que Lula trocou a possibilidade de transformação pela acomodação aos vícios da política tradicional.

Reconheço conquistas como o fortalecimento dos órgãos de investigação, a valorização do salário mínimo, o aumento do poder aquisitivo dos trabalhadores e a redução da miséria. Entretanto, o PT não avançou nas reformas de base no sistema político, na educação, na saúde, na ampliação da participação social e nas questões agrária e indígena.


Como alguém pode ter a cara de pau de insinuar que estamos vivendo nessa crise porque o governo do PT não intensificou a reforma agrária, ou não deu mais privilégios aos movimentos indígenas, ou não adotou uma democracia mais “direta”, como a venezuelana? É muita inversão de fatos! Mas é o ato desesperado de quem precisa resguardar sua utopia, blindá-la contra a realidade, contra mais essa experiência totalmente fracassada da esquerda radical no poder.

Não tentem se afastar do lulopetismo agora, esquerdistas! Essa desgraça toda infligida ao povo brasileiro é responsabilidade do esquerdismo que defendem, que ainda defendem apesar de tudo. O PT não se afastou de suas bandeiras; ele as colocou em prática, sob protestos e alertas dos liberais, e aplausos e regozijo dos socialistas. E agora a casa caiu.

Não venham afirmar que o monstro é órfão, muito menos filho da suposta “guinada à direita” do PT. É filho da esquerda mesmo. Um filho que sempre acaba renegado, abandonado, quando mostra sua verdadeira cara. Mas quem pariu Mateus que o embale…





Por Rodrigo Constantino

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