sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O "atoleiro" Brasil é o destaque da The Economist


Lembram de quando os petistas elogiavam a revista britânica The Economist? Foi quando ela estampou em sua capa um Cristo Redentor alçando voo, no auge da euforia com o país. Na época, o PT ignorou que a revista era um símbolo do capitalismo de livre mercado, e passou a citá-la como prova do acerto de suas medidas. Errava a revista, claro, ao não perceber que a euforia era insustentável e tinha pilares de areia. Mas ficou na memória a adesão petista às opiniões da respeitada revista de economia.

Desde então o caso de amor foi perdendo força, ficando cada vez mais gelado, à medida que a revista apontava as falhas do governo e do modelo desenvolvimentista de Dilma. Caso não houvesse mudança de rumo, alertava a revista, a situação ficaria feia à frente. Até a cabeça do ministro Guido Mantega ela chegou a pedir publicamente, e depois, no típico humor britânico, escreveu um editorial sarcástico defendendo sua manutenção, por compreender que sua pressão surtiria efeito contrário no país.

Pois bem: o Brasil volta às capas da The Economist, e dessa vez como um “atoleiro”. A “estrela” latino-americana se meteu em verdadeira enrascada, não vista desde os anos 1990. O quadro rosado que Dilma pintou durante a campanha era puro engodo: pleno-emprego, salários subindo e benefícios sociais garantidos, algo que seria ameaçado apenas se a oposição “neoliberal” vencesse. Os brasileiros se dão conta agora, diz a revista, de que compraram uma promessa furada.

Sem rodeios, o editorial fulmina: a economia brasileira está numa grande bagunça, mais do que o governo admite. Uma prolongada recessão se avizinha, a inflação alta espreme o salário dos trabalhadores e os investimentos, já minguados, devem cair ainda mais. O escândalo de corrupção na Petrobras não poderia ficar de fora da lista, naturalmente. A revista menciona o risco de a economia travar por conta das empreiteiras envolvidas nele. O dólar já se valorizou mais de 30% em relação ao real no ano, como consequência dessa fragilidade.

Mesmo com uma liderança firme seria difícil sair do atoleiro, segundo a The Economist. Não é o caso. Dilma é fraca, ganhou a eleição por margem estreita, não sabe negociar com o Congresso. Sua base parlamentar está ruindo diante de seus olhos. Sua taxa de aprovação está em queda livre, enquanto a de rejeição só cresce. O país precisa ir em uma direção totalmente oposta a que vinha no primeiro mandato de Dilma, mas quem acredita que ela mesma será capaz de tal reversão?

Os problemas brasileiros foram produzidos em casa, diz a revista, por erros do próprio governo. O capitalismo de estado, somado a uma irresponsabilidade fiscal, plantou as sementes dos atuais males que nos assolam. A falta de transparência nas contas públicas piorou tudo, assim como as políticas intervencionistas que desorganizaram a indústria. Escolher Joaquim Levy para a Fazenda foi um mérito de Dilma, a revista admite. Mas não será uma tarefa fácil para o doutor de Chicago, até porque ele não goza do apoio nem dos demais petistas.

O Brasil corre grandes riscos, portanto. A possibilidade de perda do grau de investimento, como já ocorreu com a Petrobras pela Moody’s, é uma espada constante sobre nossa cabeça. Se as manifestações de 2013 retomarem com força, a revista acredita que Dilma pode estar perdida. Como prêmio de consolação, a reportagem termina lembrando que a situação da Rússia é ainda pior dentro dos BRICs. Só não sei como isso pode acalmar o povo brasileiro…





Por Rodrigo Constantino

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