terça-feira, 1 de setembro de 2015

A conta foi entregue


Diante da apresentação de um orçamento com inédito furo de 30 bilhões, o governo continua torrando dinheiro com marketing tentando elevar a expectativa do povo que ludibriou na eleição passada. A conversa fiada do momento é o site dialogabrasil, que pretende ouvir todo mundo a respeito do que o governo fará daqui pra frente. Ao menos poderão dizer que estão fazendo o que o povo disse para fazer, como se não houvesse um Ministério do Planejamento repleto de gente encarregada de programar nosso futuro.

As possibilidades que se apresentam são clássicas: aumenta-se impostos, restringe-se gastos, programa-se enxugamento da máquina, vende-se patrimônio ou imprime-se dinheiro. Sobre impostos, a ideia de jerico do retorno da CPMF que, na época do governo Lula, era avaliada em torno dos 30 e tantos bi que faltarão no ano que vem, já foi posta para o escanteio sob risco de interrupção do jogo.

Restringir gastos significa nem repor a dipirona quase vencida dos postos de saúde atualmente ocupados por cubanos, interromper diversas obras do PAC I, II ou X, e largar os fornecedores do Minha Casa, Minha Vida com um cheque sem fundos na mão, entre outros malefícios para o povo, humilde ou não.

Enxugamento da máquina pública implica, entre outras medidas, fazer desaparecer da folha de pagamentos as pessoas agregadas sem motivo a dezenas de milhares de D.A.S. elevados. Claramente, nenhum político faria isso com eleitores que lhe devem o emprego. Vender patrimônio pode envolver mais poços de pré-sal empurrados a companhias internacionais, cobrar de Evo Morales pela refinaria roubada, colocar em leilão todas as estatais e, se não der certo, anunciar no E-Bay uma refinaria semi-nova no Texas. Sobre imprimir dinheiro, conforme já alertava Delfim Neto há 40 anos, o governo não precisa de dinheiro, porque isso ele mesmo pode fabricar. O que precisa é de recursos, o que, efetivamente, não tem.

Sempre há possibilidade de dar o cano pura e simplesmente nas contas que tem a pagar. Não pega muito bem, mas é uma opção adotada por pessoas desesperadas, quando não têm cheque especial (nem um agiota) para cobrir aquilo que gastam além do salário. A última instância é ajoelhar humildemente e implorar alguns trocados ao FMI ou à China.

É claro que qualquer proposta de solução para o problema econômico, em que o Brasil foi colocado pela absoluta falta de ação no sentido de evitar a tragédia, será causador de desconfortos, revoltas e mais problemas. Não foi por falta de avisos ou experiências anteriores. Foi, talvez, excesso de confiança na capacidade de embromar todos durante todo o tempo até a próxima eleição, quando poderão jogar a culpa na ingovernabilidade causada pela oposição.

É curioso que o corajoso "choque de realidade" que, conforme mencionou o senador Jorge Vianna, escancarou as dificuldades enfrentadas pelo governo brasileiro, nunca tenha sido mencionado antes ou mesmo depois das eleições. O assunto sempre foi tratado com insolente indiferença quando mencionado pela oposição. Vamos ver o que as sequelas de todo esse imbróglio causarão nas eleições do ano que vem. Vamos ver como os sindicatos conduzirão os movimentos reivindicatórios deste ano e do ano que vem, considerando que todos eles conclamaram seus sindicalizados a votarem em Dilma, aquela que nunca prejudicaria os trabalhadores e trabalhadoras desse país.

Não foi vista, até o momento, nenhuma atitude de reconhecimento por parte do governo a respeito da responsabilidade pelas condições humilhantemente desesperadoras em que deixaram o país. Nunca houve, em nenhum sentido, mesmo que parcialmente, o reconhecimento de que de alguma maneira fizeram algo errado. Nunca mencionaram que os bilhões que torraram contra os interesses do Brasil investindo em outros países são parte da causa de terem que emitir mais essa nota promissória fajuta para o povo que os elegeu. Aparentemente, a culpa é do povo que não votou com o governo.






Mauricio Terra

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