domingo, 22 de junho de 2014

Azedou de vez


Já não sentam à mesma mesa Dilma, Gilberto Carvalho e Lula. Desde que o ex-presidente incentivou o “Volta, Lula” numa tentativa de dar um golpe e voltar ao poder que a Dilma não o respeita mais como o grande líder. Confidenciou a políticos mais próximos que o padrinho tentou apeá-la da cadeira de presidente usando de métodos golpistas e traiçoeiros. Acusa-o, inclusive, de incentivar o deputado André Vargas para liderar a campanha do “Volta, Lula” a quem ela deu o troco abrindo o inquérito da Polícia Federal, onde o parlamentar aparecia envolvido com a máfia dos doleiros.  Vargas caiu em desgraça e com ele o “Volta, Lula” foi sepultado. Dilma, em uma de suas conversas com político de sua intimidade, chegou a dizer com a fúria que marca  a sua personalidade: “Quem ele pensa que é? A presidente sou eu. Dessa cadeira  ninguém me tira”. A criatura, acuada, virou-se contra o seu criador, coisa corriqueira em política. 
Os bons ventos deixaram de soprar no Palácio do Planalto desde que a presidente desceu ladeira abaixo nas pesquisas de opinião. Dos confortáveis 70% de aceitação na opinião pública para os hoje 34% e uma rejeição cavalar de 53%. Esse sintoma melancólico para uma candidata sem carisma torna-se mais grave quando se sabe que o PT está dividido. Ela também não conta com significativa parcela do PMDB,  rachado,  na convenção que confirmou a aliança  à sua candidatura. 
Lula escalou seu fiel escudeiro Gilberto Carvalho para falar com os blogueiros chapas-brancas e ocupar espaços na mídia. Na entrevista na rede social, patrocinada por empresas estatais, o ministro disse que a Dilma foi xingada e vaiada também pelo povão e não só pela “elite branca”, como acusou o ex-presidente, seu padrinho. Mas na verdade o que Carvalho queria dizer na entrevista, e disse com todas as letras, é o seguinte: o governo da Dilma é corrupto. A avaliação de que o governo é corrupto, segundo ele, “pegou”. A tática do Gilberto é jogar no colo da Dilma todos os escândalos e descolar de Lula a responsabilidade pelo desmantelo do país, preservando sua imagem no caso de derrota da presidente nas eleições deste ano. 
Há muito tempo que as relações de Gilberto Carvalho com a Dilma azedaram. Mas como a presidente não governa, não tem autonomia administrativa e virou um boneco de marionete nas mãos de Lula, não se sente encorajada a limpar o lixo, a herança maldita, que o ex-presidente deixou em Brasília, bandalheira da qual ela também foi cúmplice. Nos primeiros meses de governo ainda tentou fazer uma faxina ética, mas parou. Foi obrigada a devolver os ministérios aos presidentes dos partidos, banidos do governo por chefiarem uma quadrilha, descoberta pela Polícia Federal, que roubava milhões de reais dos cofres públicos. Amarga, portanto, o dissabor de chefiar uma Nação de comando duplo. Agora que a ficha caiu, tenta reagir mas é tarde. Perdeu o comando do país e vive como barata tonta viajando pelo Brasil atrás de voto. Sozinha, isolada, como impõe o poder àqueles que não sabem exercê-lo. Como não tem o traquejo político e foi puramente produto do marketing está mais perdida do que cego em tiroteio. Ao se recusar a ir a convenção que indicou Alexandre Padilha ao governo de São Paulo, a presidente não conseguiu disfarçar a insatisfação com Lula e a cúpula do partido, coisa de amador, que não sabe dissimular as mágoas como os políticos profissionais. O PT que construiu, é o mesmo que agora desconstrói a farsa. Mas não se engane, se a Dilma se recuperar nos programas eleitorais todos vão estar juntos novamente. É o instinto do escorpião, meu caro sapo.


Fonte: Diário do Poder

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