quinta-feira, 24 de setembro de 2015

O liberalismo e o socialismo


O liberalismo e o socialismo são dois sistemas opostos.

A essência do liberalismo, conforme diz o nome é o conceito de liberdade. O direito dos indivíduos sobre o seu corpo, sua mente e sobre a propriedade daquilo que cada um produz física e intelectualmente. Foram os liberais que se insurgiram contra a escravidão no século XIX, tanto na Europa quanto no Brasil, opondo-se ao desejo dos conservadores de manter esse regime. Os liberais sempre foram considerados progressistas, porque, de fato, a liberdade facilita o progresso e a criação de riquezas.

“O liberalismo não é uma ideologia (não acredita nelas), segue a leitura da realidade, cujas comprovações mais elementares são as seguintes: a riqueza se cria, e sua criação depende mais da iniciativa privada do que do Estado; para se avançar rumo à modernidade e deixar a pobreza para trás, são requeridos poupança, trabalho, educação, controle dos gastos públicos, investimentos nacionais e estrangeiros, multiplicação de empresas – grandes, médias e pequenas – bem como a eliminação dos monopólios públicos e privados, do clientelismo, da corrupção e da burocracia vegetativa; a supressão de trâmites, subsídios e regulações inúteis; uma Justiça rigorosa, segurança jurídica e, de forma geral, respeito à lei e à liberdade em todas as suas formas. Tais aspectos constituem os perfis do modelo liberal.”

O liberalismo preza a competição, a meritocracia, a igualdade de oportunidades no ponto de partida e o respeito aos contratos e à propriedade. “O liberalismo tira conclusões das experiências bem-sucedidas de nações como Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura, Hong Kong, Espanha, Nova Zelândia e, mais recentemente, China, Índia, Irlanda, Estônia, República Tcheca e Chile, ao mesmo tempo em que observa o que falta aos países para seguir por esse rumo, encontrando aí, de passagem, uma explicação para os nossos persistentes níveis de pobreza. Olhar primeiro as realidades que nos possam servir de exemplo e só depois formular propostas parece algo mais sadio do que obedecer aos ditames, deformações ou superstições.”

O socialismo é uma ideologia utópica, que deu errado sempre que foi aplicado na sua forma mais pura, conduzindo a regimes totalitários com privação completa da liberdade e resultados econômicos ruins. Mesmo quando aplicado de forma mitigada, como no caso das sociais democracias europEias, que já possuíam anteriormente alto nível de renda por habitante, o resultado econômico ficou bem aquém dos obtidos pelos países que preferiram o modelo liberal. Por isso, vários países estão reformulando suas regras.

A razão da superioridade do liberalismo sobre o socialismo é extremamente simples: se as pessoas podem se apropriar daquilo que produziram e criaram, a riqueza é gerada e aumenta sempre. Se o que for produzido tem que ser entregue a terceiros a riqueza não aumenta.

A razão pela qual os socialistas demonizaram o liberalismo é justamente esta: eles não se conformam com a realidade dos fatos. Uma ideologia parte de hipóteses que se transformam em premissas e depois em dogmas, a seguir constrói uma teoria que se transforma numa verdadeira religião. Se os fatos não estão de acordo com os dogmas, mudem-se os fatos para preservar os dogmas.




Por Francisco Lacombe
Professor,lecionou em diversas instituições, como Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Escola Politécnica e Escola Graduada de Ciências e Engenharia da PUC-RJ; FGV; Universidade Santa Úrsula, na qual foi coordenador do curso de Administração; e no Instituto de Tecnologia da Informação e da Comunicação em cursos de graduação e de pós-graduação.

Incitação à violência deixou de ser crime? Foi liberada aos petistas?


Sucedem-se, no país, as incitações à violência armada em substituição ao que determinam os roteiros constitucionais. A primeira convocação partiu do ex-presidente Lula quando, num discurso em "defesa" da Petrobrás, convocou às ruas os exércitos do senhor Stédile, comandante em chefe das tropas do MST. Era fevereiro deste ano. Foi o estopim para que outro alto oficial das forças petistas, o presidente da CUT, Vagner Freitas, em agosto, engrossasse mais o caldo, conclamando os movimentos sociais a irem às ruas, entrincheirados, de armas nas mãos, "se tentarem derrubar a presidente".

Em 18 de setembro, foi a vez de um deputado federal do PT, João Daniel, em pronunciamento da tribuna, sair-se com esta: "Não se enganem! Esse impeachment terá cor de sangue, porque as ruas dirão que a classe trabalhadora não se renderá, não se curvará e não baixará a cabeça".

No discurso do parlamentar petista, os primeiros alvejados por essa mobilização de forças, como de hábito, foram os fatos. Ele proclamou da tribuna que a presidente Dilma é "firme e forte para conduzir um grande projeto para o país". Sim, claro, todo mundo percebe isso... Segundo ele, o que acontece com a presidente Dilma "é a humilhação contra as mulheres" motivada pelo "preconceito dos que, dentro, tem a força do fascismo". E foi em frente, acusando a oposição de "um golpe para manter o povo na miséria, para os ricos ganharem mais".

Ruim, não? A presidente, que ele diz "firme e forte" não consegue manter uma decisão por 24 horas. De que preconceito fala o deputado num país que elegeu e "reelegeu" uma mulher? Se a inquilina do Palácio da Alvorada tem apenas 7% de aprovação, isso significa que ela está sendo reprovada por 82% dos homens e mulheres que a elegeram. Por outro lado, essa história de que "os ricos querem os pobres na pobreza" é uma tolice marxista sem qualquer fundamento, porque numa sociedade livre todos se beneficiam do desenvolvimento econômico. E o desenvolvimento econômico gera desenvolvimento social. Mas, enfim, de onde menos se espera razoabilidade e discernimento é que não os haveremos de obter.

A questão suscitada pelas três manifestações guerreiras acima é esta: desde quanto a incitação à violência deixou de ser crime no país? Perdeu serventia e valor o disposto no art. 23 da Lei 7.177/83? Nele se lê que é punido com um a quatro anos de prisão quem "Incitar à luta, com violência entre as classes sociais".

Mas a lei... Ora, a lei!





Por Percival Puggina

O golpe bolivariano do STF e da OAB



A proibição das doações de empresas em campanhas eleitorais pelo STF, a pedido da OAB petista e com comemoração carnavalesca pelo PT e PSOL, é um golpe contra a democracia. Um golpe bolivariano aplicado para manter no poder quem já tem o poder. E o pior: com cara de algo legítimo, constitucional.

Não há país livre no mundo onde uma patuscada destas aconteça. Não existe eleição sem financiamento.

Criar limites, aprimorar as regras e dar transparência às doações é uma coisa. Criminalizar duramente quem desrespeitar as regras também. Mas proibir empresas que estão legalmente constituídas gerando empregos, renda e desenvolvimento de doar alegando que isso gera corrupção é raso, surreal, um atentado contra a liberdade. Seria como proibir o automóvel porque o Brasil é campeão mundial de mortes no trânsito.

Para quem não sabe, 95% das empresas brasileiras são micro e pequenas. E apenas 20 dentre as maiores empresas nacionais respondem por mais de 50% das doações para os grandes partidos. Portanto, o problema não são as doações e sim a distorção, que sempre pode ser corrigida. Ao invés de se jogar a água do banho fora, se jogou a água, a bacia e a criança junto.

Os espertos bolivarianos, apanhados no maior esquema de roubo de dinheiro da história brasileira, inventaram um discurso redentor, valeram-se da mídia amestrada para pautar o que é a verdade deles, conseguiram fazer as pessoas ingênuas repetirem que o "financiamento privado é a causa da corrupção" no país, e contaram com o STF ideológico de Toffoli e Lewandowski para colocar o cabresto. Bye bye, democracia. Bem-vindo, caixa dois bolivariano. Em breve as contas nos paraísos fiscais serão movimentadas para perpetuar a turma vermelha.

E mais. Ainda que eu não soubesse nada sobre o que foi discutido, pelo simples fato de PT e PSOL comemorarem como final de Copa do Mundo esta proibição tosca, é sinal de que não é bom para o país.

Ou o Congresso derruba essa porcaria fazendo uma emenda constitucional que permita a doação privada ou tratem de colocar uma estatueta do pixuleco no altar de casa. Mas não deixem a carteira por perto.



Por Diego Casagrande

Espantalhos, nazistas e coerência ética



Reduzir à politicagem uma questão que toca no valor da vida humana e na dignidade da vida e nos limites de definição do que é digno, correto ou errado fazer é, no mínimo, uma barbaridade.


Alguns seres humanos têm a capacidade de nos surpreender ao tornarem realidades as mais estapafúrdias hipóteses.

Explico melhor...

No livro A Morte da Medicina, joguei com a hipótese da perda de dignidade do feto e do bebê, e perguntei se caso não houvesse problema em matar um feto ou bebê por não o considerar pessoa, por que então haveria problema em vender suas partes ou degustá-lo como fina iguaria? Confesso que foi um gracejo na época, uma conductio ad absurdum de valor retórico, talvez.

E assisti surpreso a uma série de vídeos nos quais uma das maiores empresas abortistas do mundo, a Planned Parenthood, fundada pela excêntrica eugenista estadunidense Margareth Sanger, negociava pedaços de bebês e fetos, inclusive enquanto um “espécime” ainda com o coração batendo era dilacerado.

O que era hipótese grotesca e chocante virava realidade da noite para o dia.

Mas quando acho que posso tomar fôlego, eis que um novo fato surpreende. Em um dos melhores periódicos médicos do mundo é publicado um comentário no mínimo curioso, demonstrando certa indignação com a indignação alheia, reclamando dos incoerentes defensores da dignidade da vida humana[1]. Mas fico surpreso porque o artigo inteiro nada mais é do que uma série de proposições falaciosas ao redor de um grande espantalho[2] inventado pela autora Alta Charo, importante bioeticista da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos.

A autora começa reclamando sobre as grandes “vias de esperança” (avenues of hope) que poderão ser destruídas pelo ativismo de grupos politiqueiros. Segundo ela:

“(…) essas vias de esperança [para pacientes atuais e futuros por causa da pesquisa com tecido fetal] são ameaçadas [por meio do corte de verbas federais para a Planned Parenthood] por uma luta política pura – uma luta que, neste caso, não vai afetar de forma alguma o número de fetos abortados ou trazidos a termo, objetivo alegado pelos ativistas envolvidos.”

“(...) those avenues of hope [for current and future patients because of fetal tissue researching] are being threatened [by the Federal defunding of Planned Parenthood] by a purely political fight – one that, in this case, will in no way actually affect the number of fetuses that are aborted or brought to term, the alleged goal of the activists involved.”

Há vários erros no raciocínio exposto.

Declarar que tudo não passa de uma briga política é cometer um dos grandes crimes filosóficos dos quais se tem notícia: reducionismo. Reduzir à politicagem uma questão que toca no valor da vida humana e na dignidade da vida e nos limites de definição do que é digno, correto ou errado fazer é, no mínimo, uma barbaridade. É ignorar, ou preferir não reconhecer, que há sim elementos políticos na discussão, mas que esta discussão é algo muito mais sério, amplo e profundo do que a política, é uma questão que aborda diretamente a cosmovisão de toda uma nação, senão de uma civilização. É uma questão essencial para a definição de quem são afinal os norte-americanos.

Alta Charo também parece melindrada sobre bagunçar esperanças alheias em grandes descobertas num futuro hipotético. Mas, desde que Hans Jonas publicou sua obra chamando a atenção da comunidade mundial de bioeticistas sobre o princípio da Responsabilidade e do Temor[3] - sendo acusado por muitos incautos de conservador justamente por não advogar o progresso científico acima do bem do indivíduo concreto e real de nosso tempo -, analistas prudentes perceberam que nenhuma esperança em algo hipotético e, portanto, opcional, no futuro, pode justificar uma falha ética no presente. Logo, não há razões para melindres a respeito de expectativas futuras se houver razões para melindres a respeito de falhas éticas graves no presente.

E verdade seja dita: o que mais se tem quando se fala em células tronco embrionários é esperança.

Dizer também que o número de abortos não diminuirá por meio do ativismo político e social de defensores da vida de fetos e bebês também não é uma proposição muito adequada. Há que se ter um pouco mais de cautela, pois numa situação relativamente nova no conhecimento geral e pouco pesquisada e analisada, não se sabe se a disponibilização de um mercado de pedaços de bebês e fetos não geraria um grande aumento do número de abortos. Da mesma forma, não se pode afirmar que a proibição da destinação de verbas federais à Planned Parenthood não geraria uma redução no número de abortos. Quem sabe? Eu não sei, e creio sinceramente que Alta Charo também não pode afirmar saber.

A seguir ela diz:

“Ao ver de perto a pesquisa em tecido fetal, observa-se o dever de usar esse precioso tecido na esperança de encontrar formas de prevenir ou tratar doenças devastadoras. Virtualmente qualquer pessoa neste país se beneficiou da pesquisa com tecido fetal. Todas as crianças que foram poupadas dos riscos e sofrimentos da catapora, rubéola ou pólio podem agradecer aos ganhadores do Prêmio Nobel e outros cientistas que usaram tal tecido para produzirem a vacina que nos protege.”

(“A closer look at the ethics of fetal research, however, reveals a duty to use this precious resource in the hope of finding new preventive and therapeutic interventions for devastating diseases. Virtually every person in this country has benefited from research using fetal tissue. Every child who’s been spared the risks and misery of chickenpox, rubella, or polio can thank the Nobel Prize recipients and other scientists who used such tissue in research yielding the vaccines that protect us.”)

Realmente o número de pessoas que se beneficiou com o uso de tecido fetal é incontável em quase um século de vacinas. Mas do fato que se pode utilizar tecido fetal para beneficiar o próximo não se depreende que tal tecido tenha que ser colhido de ações eticamente questionáveis. Por que não colher apenas tecido fetal decorrente de situações eticamente inquestionáveis como aquelas em que ocorre aborto espontâneo ou traumático acidental? Por que não investir em meios de pesquisa mais avançados para proliferar o tecido obtido por meios menos controversos e fornecer material suficiente para pesquisa sem incorrer em questões existenciais que podem comprometer os valores de todo um povo?

Ou por que não investir em novos tecidos e novas técnicas capazes de evitar problemas éticos?

Acomodar-se, cobrar coerência e continuidade em relação a determinada linha de pesquisa e ridicularizar um dos lados da questão não parece ser realmente o melhor caminho. E se eu quiser fazer o meu espantalho também, parece algo bem reacionário dentro de um contexto progressista, se é que vocês me entendem...

Há também a cobrança de uma coerência por parte dos defensores enragé da vida:

“Críticos apontam para os abortos por trás da pesquisa, afirmam que são antiéticos, e argumentam que a sociedade não pode endossá-los ou até mesmo beneficiar-se deles, sob o risco de encorajar mais abortos ou tornar a sociedade cúmplice com o que eles veem como um ato imoral. No entanto, eles têm se utilizado sobremaneira das vacinas e tratamentos derivados da pesquisa com tecido fetal, e não dão indicação de que irão abrir mão de benefícios obtidos. Justiça e reciprocidade sugerem que eles têm o dever de apoiar o trabalho, ou ao menos, não o atrapalhar. ”.

(“Critics point to the underlying abortions, assert that they are evil, and argue that society ought not implicitly endorse them or even indirectly benefit from them, lest it encourage more abortion or make society complicit with what they view as an immoral act. Yet they have overwhelmingly partaken of the vaccines and treatments derived from fetal tissue research and give no indication that they will forswear further benefits. Fairness and reciprocity alone would suggest they have a duty to support the work, or at least not to thwart it.”)


Alta Charo cobra um determinado tipo de coerência no mínimo questionável. Exemplifico com uma analogia.

Suponhamos que a medicina nazista, utilizando judeus, prisioneiros de guerra ou crianças com retardo mental, tenha produzido um avançado medicamento no passado que salvou muitas vidas arianas e não arianas até os dias de hoje. Utilizar tal medicação e reconhecer seu benefício não quer dizer que, automaticamente, há que se assumir um compromisso em seguir fazendo pesquisa e medicina nos moldes nazistas, ou utilizando judeus, crianças deficientes ou prisioneiros.

É muito mais coerente cobrar que, ao ser descoberta uma ameaça à ética, tal ameaça seja imediatamente avaliada e que chances de perpetuar um erro sejam suspensas até que se saiba melhor qual caminho tomar. Parar com a “venda” de fetos ou suspender temporariamente o aporte de novos espécimes para pesquisa não implicará imediatamente no fim das pesquisas com os tecidos fetais já colhidos, ou até mesmo na coleta de novos tecidos à medida em que novos abortos espontâneos ou sob condições mais seguras do ponto de vista ético continuem acontecendo.

A autora prossegue menosprezando a perspectiva alheia e declara que:

“(...) parece óbvio que as necessidades de pacientes de hoje e do futuro superam o que só podem ser gestos simbólicos ou políticos de preocupação. ”

“(...) it seems clear that the needs of current and future patients outweigh what can only be symbolic or political gestures of concern.”


Só parece óbvio, mas não é. Nesse esquema lógico, uma premissa não bate. Há uma falta de empatia mortal ao debate intelectual. O pressuposto de que se está ao lado da verdade e do bem, e que o próximo é um hipócrita interesseiro ou um simplório incapaz de sentimentos genuínos e profundos não parece contribuir para o ambiente respeitável de diálogo e compreensão que a Bioética exige.

Dra. Charo também observa uma ironia, que descreve como o fato de que:

“reduzir o acesso à contracepção [ao deixar de custear com verbas do governo a Planned Parenthood, que também atua na distribuição de anticoncepcionais] é o caminho mais certo para aumentar o número de abortos.”

“reducing access to contraception is the surest way to increase the number of abortions.”


Mas antes de ser uma ironia há uma possibilidade em jogo. Pode muito bem ser possível que outras organizações sem entraves éticos como a Planned Parenthood tomem para si o papel de orientar acerca da contracepção. Pode ser que novos serviços surjam. Pode ser que o número de abortos até diminua, afinal de contas, quem faz o aborto e o defende pode, de uma hora para outra, não estar lá. Não é possível afirmar que tirar verbas do contribuinte norte americano da megaempresa abortista aumentará de fato o número de abortos. Isso seria brincar de prever o futuro sem muita fundamentação em exemplos históricos.

Por fim, o artigo encerra com um tom fortemente retórico e emocional, tentando exibir a feiura moral daqueles que discordam:

“Esse ataque representa uma traição às pessoas cuja vida poderia ser salva pela pesquisa, e uma violação do dever mais fundamental da medicina e da política de saúde, o dever de cuidar.”

“This attack represents a betrayal of the people whose lives could be saved by the research and a violation of that most fundamental duty of medicine and health policy, the duty of care.”



Se o ataque é uma traição a pessoas do futuro, porque a venda de órgãos de fetos e bebês não seria uma traição aos seres humanos do presente? Se o dever fundamental da medicina e das políticas de saúde é cuidar do próximo, onde está o cuidado com as vidas interrompidas, ou com a sua dignidade?

A preocupação da doutora Charo é plenamente compreensível e respeitável dentro de uma perspectiva progressista e cientificista. O mínimo que se espera de alguém de sua importância como figura pública, bioeticista e educadora, é um esforço genuíno para compreender que a postura daqueles que ela chama de traidores e politiqueiros também é respeitável dentro de suas próprias perspectivas.

Criar espantalhos ou menosprezar problemas éticos nessa altura do campeonato não ajudará em nada ao debate bioético de qualidade.






Por Hélio Angotti Neto
Deão da Escola de Medicina da UNESC, é o fundador do Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina (SEFAM) e autor do livro A Morte da Medicina.


Notas:



[1] CHARO, Alta. Fetal Tissue Fallout. New England Journal of Medicine, 373(10), September 3, 2015, p. 890-891.


[2] Evocar um espantalho numa discussão, debate ou argumentação é criar uma versão estereotipada de seu “adversário” e passar a atacar a própria criação ao invés de abordar a pessoa real com quem se relaciona.


[3] JONAS, Hans. Princípio Responsabilidade – Ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro, RJ: Editora Contraponto, 2006.





Liberdade para escravizar-se?


Aqueles que detêm e fazem péssimo uso do poder político e financeiro não querem lidar com sujeitos sóbrios e verdadeiramente críticos; preferem uma sociedade literalmente entorpecida.


Em um país como o Brasil, cuja insegurança e cujo morticínio fazem regiões conflagradas mundo afora parecerem parques de diversões, não é nada prudente deter-se em discussões como a da legalização das drogas. Todavia, torna-se urgente dizer algumas palavras sobre isso, posto que se propõe desperdiçar tempo e dinheiro público no Congresso Nacional e no Supremo Tribunal Federal, em debates sobre se os brasileiros devem ou não ser livres para se entorpecerem. Aliás, “entorpecer” é tornar torpe, causar torpor, perder a energia – retardar. Pois abro parênteses aqui: sou a favor da liberação das drogas a quem disser: “Sim, sim! Desejo honestamente deixar-me retardar. Quero mesmo é ser um grandissíssimo retardado!”. Neste único caso, defendo o direito ao uso e ao abuso de narcóticos, em nome da seleção natural. De resto, seguem minhas considerações.

Primeiramente, a quem defende o uso de substâncias como maconha e cocaína como exercício pleno de liberdade, digo: não há liberdade alguma no vício; há apenas escravidão. Nas preferências e nos prazeres humanos, busca-se, desde Aristóteles e Confúcio, o caminho do meio, a temperança. Sexo, álcool, comida e jogos, por exemplo, são boas coisas se mantidas sob controle; exagerar em seu uso ou consumo redunda em perder as rédeas e tornar-se escravo. Procure relatos de ninfomaníacos, alcoólatras, glutões e viciados em jogos: invariavelmente, a satisfação do começo, dos tempos de uso controlado, é logo substituída por uma dependência doentia, na qual se cede ao vício de forma automática, irrefletida, sem o gozo do prazer racional. Já no caso dos entorpecentes, o problema está em sua essência e é expresso em seu nome: entorpecem, causam torpor, alteram o estado de consciência do usuário, mesmo em pequenas doses, desde o primeiro uso, o que de forma alguma se relaciona com liberdade e dignidade humana. Não há, portanto, meio-termo e temperança no uso de maconha e cocaína – o retardo e a estupidez sobrevêm já às primeiras tragadas e inaladas.

Saindo da dimensão pessoal, aportemos na questão política. O leitor já se perguntou a quem – além de adultos imaturos (ou adolescentes tardios) – interessa a descriminalização e até a legalização das drogas? Não é preciso pensar muito para concluir que aqueles que detêm e fazem péssimo uso do poder político e financeiro não querem lidar com sujeitos sóbrios e verdadeiramente críticos; preferem uma sociedade literalmente entorpecida, composta por indivíduos que se deixam guiar e controlar por vícios e desejos primários. Além disso, pesquise e descubra que alguns dos maiores financiadores de campanhas de liberação de entorpecentes em todo o mundo são pessoas e instituições bilionárias, como a Open Society, do especulador George Soros, que financia a “luta” pela legalização das drogas em países subdesenvolvidos como o nosso, com interesse tanto no controle subjetivo exposto acima como nos bilhões de dólares do narcotráfico.

Ademais, a legalização não acabará com o comércio ilegal de drogas, da mesma forma como não acabou com o tráfico de outros itens, de cosméticos a medicinais. O efeito primeiro dessa medida seria transformar grandes traficantes em empresários bem-sucedidos, premiando-os por seus anos dedicados ao crime e ao assassínio de devedores, concorrentes e agentes de segurança. Por fim, os impostos que o Estado lucraria com a regulamentação desse mercado não cobririam os custos refletidos na saúde pública de uma nação que já conta com problemas demais – e não deve estimular que seu povo se dê ao luxo de usar sua liberdade para escravizar-se.



Por Mateus Colombo Mendes
Editor, redator e empresário.



Publicado na Gazeta do Povo.

O Papa esquece os oprimidos de Cuba



Se o Papa Francisco realmente queria falar para os oprimidos, há onze milhões deles em Cuba.


Em 1960, os bispos cubanos, declararam que "o catolicismo e comunismo respondem a dois conceitos totalmente diferentes do homem e do mundo que nunca será possível conciliar." O Papa Francisco, no entanto, afirma que comunismo é na realidade cristianismo. "Os comunistas têm roubado a nossa bandeira", disse ele.

Os bispos cubanos condenaram o comunismo como "um sistema que brutalmente nega os direitos mais fundamentais do ser humano." As críticas do Papa Francisco ao regime de Castro foram limitadas a oblíquas referências, um apelo por liberdade religiosa para os católicos e críticas gerais que poderiam ser aplicadas a Cuba ou a qualquer um de inúmeros outros lugares. Ele não conseguiu sequer reiterar suas velhas críticas ao regime.

Dissidentes cubanos foram impedidos de encontrar o Papa Francisco e até mesmo o "trajeto de boas vindas" que havia sido planejado foi fechado quando as autoridades comunistas detiveram dissidentes políticos. Quando os manifestantes arriscaram sua liberdade para chegar perto dele, foram presos sem receber qualquer reconhecimento do papa. Os Castros conseguiram suas reuniões e sua publicidade.

Os oprimidos, para quem o Papa Francisco alegou que se pronunciaria durante a sua visita e durante suas viagens internacionais, foram deixados de fora no frio. Eles foram tratados com outra referência indireta, quando o Papa Francisco expressou seu desejo de "abraçar especialmente todos aqueles com os quais, por vários motivos, eu não pude me encontrar."

"Simplesmente não nos parece estar certo ou mesmo que o papa não tenha um pouco de tempo para se encontrar com os cubanos que estão defendendo os direitos humanos", disse o chefe da maior organização dissidente do país.

Papa Francisco falou do acordo de Obama com Castro como um "processo de normalização das relações entre os dois povos, após anos de afastamento." Mas ele sabe muito bem que não é nada desse tipo. Os cubanos não são estranhos aos refugiados cubanos na América por falta de relações diplomáticas, mas pela supressão brutal de liberdade política e religiosa pelo regime de Castro.

O acordo de Obama não reúne os "dois povos"; ele põe dinheiro nos bolsos de um regime que o Papa Francisco tinha chamado de corrupto e autoritário. Ele permite que os esquerdistas americanos visitem Cuba para o comércio de prostitutas menores de idade, o que se tornou notório. Esta não é reconciliação. É exploração.

O sinal mais claro do que está por trás do verdadeiro "estranhamento" em Cuba pode ser encontrada na declaração de 1960, que sustentou que "a maioria absoluta do povo cubano, que é formada por católicos... só por engano ou coerção pode ter sida levada a um regime comunista."

Hoje, o inverso é verdadeiro, pois, engano e coerção cobraram seu preço.

Os bispos cubanos desafiaram o regime de Castro como uma questão de consciência. E eles pagaram o preço. A repressão de Castro sobre a Igreja Católica nos anos 60 tem sido amplamente ignorada por uma mídia que está ansiosa para contar uma história muito diferente. Mas ela parece ter sido tão tragicamente esquecida pelo Papa Francisco.

Francisco poderia ter lembrado do bispo Eduardo Boza Masvidal que foi preso várias vezes e cuja igreja foi bombardeada depois de exortar os cubanos a lembrarem de "todos aqueles que lutam e sofrem perseguição sob regimes comunistas." E o papa poderia ter lembrado de suas palavras que o regime comunista de Cuba é "baseado em ódio e luta de classes em vez de amor... é uma coisa terrível ensinar um povo a odiar. É uma das coisas mais anticristãs, que podem ser feitas."

Quando o papa Francisco tenta fazer causa comum com os marxistas em torno da luta de classes, ele está fazendo causa comum com o ódio, em vez de amor, no ressentimento de divisão, em vez da reconciliação. É um plano que não só está fadado ao fracasso, mas está fadado a sair pela culatra, espalhando mais ódio em vez de amor.

Como Che Guevara tinha insistido, "o ódio é o elemento central de nossa luta... O ódio que é intransigente... O ódio tão violento que impulsiona o ser humano além de suas limitações naturais, tornando-o violento e uma fria máquina de matar sanguinária... Para estabelecer o socialismo, rios de sangue devem correr."

Este é o terrível objetivo final de espalhar a luta de classes. O ódio se enraíza e cria monstros.


Padre José Conrado, que realmente vive em Cuba, fornece um modelo muito diferente que desafia a autoridade do regime de Fidel Castro, ao invés de tentar encontrar um terreno comum com ele. Conrado tinha desafiado o ditador de Cuba sobre a existência de "prisioneiros de consciência" e restrições sobre "as liberdades mais básicas: de expressão, de informação, de imprensa e de opinião, e sérias restrições à liberdade de religião"

Ele não fez isso em 1960, mas apenas alguns anos atrás. Antes da visita do papa, ele disse, "Eu não posso ignorar o sofrimento do meu povo, as injustiças que eu acredito que são evitáveis. Dante disse que o nono círculo do inferno, o pior de todos os círculos, é reservado para aqueles que em tempos de crise cruzam os braços e fecham suas bocas".

A mudança política não acontece sem coragem política. E autoridade moral não é exercida tolerando a imoralidade. A autoridade moral de um regime totalitário não repousa sobre o amor, mas no medo. A timidez em face da tirania defende aquela autoridade moral de terror político. Ela cede ao medo.

"O medo gerado por um regime totalitário não está definido. É um medo que provoca uma angústia paralisante porque não se pode até mesmo definir exatamente o que é que se teme. O que eles podem nos fazer? Eles podem tirar nossas vidas? Eles podem tirar a nossa honra, por falarem mal de nós, com campanhas de difamação? Eles fazem isso o tempo todo", disse o padre José Conrado.

A religião pode dar às pessoas a coragem de desafiar esse medo. Ela pode mostrar a um povo oprimido as mesquinhas limitações de tiranos que dependem de intimidação para sua autoridade. Pode dotar o desafiante com autoridade moral. É um grave erro sacrificar essa autoridade moral em troca de conciliação com tiranos.

Em 1960, o clero de Cuba entendeu que não poderia haver uma base comum com o comunismo, que tinha de ser desafiado, mesmo que o desafio fosse condenado, porque a cumplicidade com o mal iria corrompê-los.

Poucos servem como melhor exemplo do que Javier Arzuaga, o ex-padre de esquerda que tinham apoiado Castro, apenas para fugir chocado e horrorizado com a carnificina.

"No dia em que saí, Che disse-me que nós dois tínhamos tentado trazer um ao outro para o seu lado e tínhamos falhado”. Suas últimas palavras foram: "Quando jogarmos fora nossas máscaras, seremos inimigos", lembrou Arzuaga.

Os Castros colocaram suas máscaras de novo, mas por baixo há um regime totalitário baseado na brutalidade e no ódio. Debaixo de suas máscaras, eles são o inimigo. Ajudá-los é arriscar-se a tornar-se cúmplice de seus crimes.

Se o Papa Francisco realmente queria falar para os oprimidos, há onze milhões deles em Cuba. Eles não são oprimidos pelo capitalismo nem pelo aquecimento global. Eles são oprimidos por esse medo, a angústia paralisante que ele traz e a apatia que vem com ele. Eles precisavam de armas contra esse medo.

A visita do papa deu aos Castros o que eles queriam, mas não conseguiu dar ao povo cubano o que eles precisavam.




Por Daniel Greenfield

Publicado no The FrontPage Magazine.

Tradução: William Uchoa

Pode o dólar passar de R$ 6?


Pronto. Dobramos a meta. O dólar ultrapassou a marca de R$ 4, quebrando mais um recorde no Plano Real – a maior marca de toda a história da moeda brasileira –, outro feito nada invejável do atual governo.

Para muitos economistas, câmbio a R$ 4 já uma realidade difícil de mudar. Os prognósticos variam apenas na intensidade com que o dólar irá subir nos próximos meses.

Há pouco mais de um mês escrevi um artigo para analisar se o dólar estava caro ou barato e até onde poderia ir. A conclusão então é a mesma que segue: o real já está bem subvalorizado, bem abaixo do que seria o seu valor justo, ou correto, de acordo com a teoria da paridade de poder de compra. O preço de "equilíbrio" do dólar estaria situado ao redor de R$ 3,15.

Como cheguei a essa conclusão? Utilizando a taxa de câmbio real (TCR), a qual considera a variação do poder de compra das duas moedas — real e dólar, calculados pelos índices de preços ao consumidor de cada país (IPCA e CPI) —, podemos aferir qual seria o valor justo para o câmbio. Isso não significa afirmar que o dólar a R$ 4,13 esteja errado. O preço praticado pelo mercado neste momento é esse e ponto.

O que a análise da TCR evidencia é o quão descolado dos fundamentos está o câmbio. Em outras palavras, levando em conta apenas a variação da depreciação relativa entre duas moedas — a velha teoria da paridade de poder de compra —, um dólar acima de R$ 3,15 não pode ser explicado apenas pelos fundamentos, há outras forças em jogo levando o câmbio para longe do que seria razoável.

Atualizado o gráfico da taxa de câmbio "correta" com os dados de julho e agosto, vemos que o dólar de equilíbrio subiu de R$ 3,11, em junho, para R$ 3,15.


E como evoluiu a própria TCR calculada pelo Banco Central (Bacen)?


Ao fim de junho, a TCR estava em 99,8; mas após a subida incansável do dólar, o índice fechou o mês de agosto em 111,61, apontando um desalinhamento considerável em relação ao valor justo — quanto mais distante de 100, mais em "desequilíbrio" estaria a taxa de câmbio.

E assumindo que a cotação da moeda americana permanecerá no nível atual por mais alguns dias, ao fim de setembro a TCR indicará um descolamento ainda mais proeminente.

De fato, o câmbio atingiu a marca histórica de R$ 4, superando a cotação alcançada lá no final de 2002 quando o dólar quase chegou nesse patamar. Mas o câmbio a R$ 4 em 2015 é comparável ao câmbio a R$ 4 em 2002? Para responder essa pergunta, analisemos novamente o gráfico da TCR.

A maior marca registrada pelo índice foi de 206,11 em outubro de 2002, mês das eleições presidenciais quando o câmbio disparou para cerca de R$ 4. Era o auge da turbulência dos mercados, fruto do temor de um futuro governo de esquerda ansioso para avacalhar com o Plano Real e minar os fundamentos da economia.

Hoje, porém, o dólar sendo negociado a R$ 4 não levará a TCR para 206. Considerando que em agosto o índice alcançou 111, quando o câmbio estava ainda ao redor de R$ 3,50, a TCR atualmente deve situar-se entre 120 e 130.

O exercício interessante a fazer, então, é: se tivéssemos hoje o mesmo descolamento entre câmbio vigente e câmbio correto lá de 2002, qual seria o dólar atualmente? Dito de forma mais direta, se a TCR fosse hoje 206,11, o mesmo patamar de outubro de 2002, qual seria o dólar implícito hoje? Nada menos que R$ 6,50!

Essa é a resposta da pergunta feita anteriormente: o dólar a R$ 4 em 2002 equivale a um dólar ao redor de R$ 6,50 hoje.

Isso quer dizer que em 2002 o descolamento do câmbio de mercado do seu valor justo foi uma absurdidade, o que comprova o quanto o mercado desconfiava de um futuro governo petista no poder.

A pergunta que ninguém sabe responder é: será que o dólar passa de R$ 5? Será que passa de R$ 6?

No artigo anterior, concluí dizendo que: "Em 2002, as contas estavam ajustadas internamente, mas um tanto vulneráveis no front externo. Ao contrário daquele ano, hoje o desajuste está nas contas internas. Mas de forma semelhante àquele ano, o câmbio virou novamente um termômetro da desgovernança política brasileira".

De fato, a rápida subida do termômetro do dólar reflete rigorosamente o que ocorreu desde então. Em menos de 30 dias o governo Dilma Rousseff fez lambança atrás de lambança — como o orçamento com déficit primário enviado ao congresso, algo inédito na história contemporânea do país —, levando o mercado a questionar cada vez mais a saúde fiscal do governo e a reduzir as projeções de crescimento econômico e, de quebra, antecipando o rebaixamento da classificação de risco do país pela agência Standard &Poors.

Confesso ter subestimado a capacidade do governo de desgovernar em tão pouco tempo. A aptidão desse time para aprofundar ainda mais a crise política e econômica é ímpar. Isso o mercado não perdoa, e o câmbio é o reflexo direto do caos institucional e econômico que vivemos.

A situação atual é semelhante à de 2002? Em parte sim, pois há uma enorme incerteza quanto aos rumos políticos, cujos desdobramentos afetarão diretamente a economia brasileira. Mas há diferenças importantes também.

Naquela época, as contas externas estavam bastante vulneráveis, hoje não estão. Mas em 2002, a economia real não estava tão bagunçada quanto hoje está. Não estávamos diante da forte recessão que hoje bate à porta de todos os cidadãos.

A alta do dólar de 2002 deveu-se a uma crise de confiança clara e bastante pontual. A correção daquela conjuntura não era uma tarefa hercúlea. Bastava o governo Lula sinalizar ao mercado que manteria a política econômica longe das heterodoxias propostas pela ala radical do Partido dos Trabalhadores e a confiança retornaria para acalmar o câmbio. Foi justamente o que aconteceu. Felizmente.

Hoje estamos em uma situação muito mais complexa, pois o quadro político é mais imprevisível que o de 2002, e os ajustes necessários para reconduzir a economia ao crescimento são muito mais profundos. Por isso tudo esta já é a pior crise da história do Plano Real com alta probabilidade de agravar-se ainda mais.

Pode o dólar chegar a R$ 6? Sinceramente, pode. É claro que pode. É provável? Teimarei mais uma vez em afirmar que não. A verdade é que na atual conjuntura, qualquer previsão é especulação pura. Wild guessing.

Mas em vez de prever se o câmbio superará R$ 5 ou R$ 6, a resposta mais precisa, talvez, seja afirmar que o dólar dificilmente volta para R$ 3 tão cedo — se é que voltará algum dia. Ao que tudo indica, dificilmente baixará de R$ 4.

A prosperidade ilusória da última década acabou. Estamos de volta à realidade.

Mas, em caso de dúvida, compre dólar.





Por Fernando Ulrich
Mestre em Economia da Escola Austríaca, com experiência mundial na indústria de elevadores e nos mercados financeiro e imobiliário brasileiros. É conselheiro do Instituto Mises Brasil, estudioso de teoria monetária, entusiasta de moedas digitais, e mantém um blog no portal InfoMoney chamado "Moeda na era digital". Também é autor do livro "Bitcoin - a moeda na era digital".