quinta-feira, 24 de setembro de 2015

O liberalismo e o socialismo


O liberalismo e o socialismo são dois sistemas opostos.

A essência do liberalismo, conforme diz o nome é o conceito de liberdade. O direito dos indivíduos sobre o seu corpo, sua mente e sobre a propriedade daquilo que cada um produz física e intelectualmente. Foram os liberais que se insurgiram contra a escravidão no século XIX, tanto na Europa quanto no Brasil, opondo-se ao desejo dos conservadores de manter esse regime. Os liberais sempre foram considerados progressistas, porque, de fato, a liberdade facilita o progresso e a criação de riquezas.

“O liberalismo não é uma ideologia (não acredita nelas), segue a leitura da realidade, cujas comprovações mais elementares são as seguintes: a riqueza se cria, e sua criação depende mais da iniciativa privada do que do Estado; para se avançar rumo à modernidade e deixar a pobreza para trás, são requeridos poupança, trabalho, educação, controle dos gastos públicos, investimentos nacionais e estrangeiros, multiplicação de empresas – grandes, médias e pequenas – bem como a eliminação dos monopólios públicos e privados, do clientelismo, da corrupção e da burocracia vegetativa; a supressão de trâmites, subsídios e regulações inúteis; uma Justiça rigorosa, segurança jurídica e, de forma geral, respeito à lei e à liberdade em todas as suas formas. Tais aspectos constituem os perfis do modelo liberal.”

O liberalismo preza a competição, a meritocracia, a igualdade de oportunidades no ponto de partida e o respeito aos contratos e à propriedade. “O liberalismo tira conclusões das experiências bem-sucedidas de nações como Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura, Hong Kong, Espanha, Nova Zelândia e, mais recentemente, China, Índia, Irlanda, Estônia, República Tcheca e Chile, ao mesmo tempo em que observa o que falta aos países para seguir por esse rumo, encontrando aí, de passagem, uma explicação para os nossos persistentes níveis de pobreza. Olhar primeiro as realidades que nos possam servir de exemplo e só depois formular propostas parece algo mais sadio do que obedecer aos ditames, deformações ou superstições.”

O socialismo é uma ideologia utópica, que deu errado sempre que foi aplicado na sua forma mais pura, conduzindo a regimes totalitários com privação completa da liberdade e resultados econômicos ruins. Mesmo quando aplicado de forma mitigada, como no caso das sociais democracias europEias, que já possuíam anteriormente alto nível de renda por habitante, o resultado econômico ficou bem aquém dos obtidos pelos países que preferiram o modelo liberal. Por isso, vários países estão reformulando suas regras.

A razão da superioridade do liberalismo sobre o socialismo é extremamente simples: se as pessoas podem se apropriar daquilo que produziram e criaram, a riqueza é gerada e aumenta sempre. Se o que for produzido tem que ser entregue a terceiros a riqueza não aumenta.

A razão pela qual os socialistas demonizaram o liberalismo é justamente esta: eles não se conformam com a realidade dos fatos. Uma ideologia parte de hipóteses que se transformam em premissas e depois em dogmas, a seguir constrói uma teoria que se transforma numa verdadeira religião. Se os fatos não estão de acordo com os dogmas, mudem-se os fatos para preservar os dogmas.




Por Francisco Lacombe
Professor,lecionou em diversas instituições, como Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Escola Politécnica e Escola Graduada de Ciências e Engenharia da PUC-RJ; FGV; Universidade Santa Úrsula, na qual foi coordenador do curso de Administração; e no Instituto de Tecnologia da Informação e da Comunicação em cursos de graduação e de pós-graduação.

Incitação à violência deixou de ser crime? Foi liberada aos petistas?


Sucedem-se, no país, as incitações à violência armada em substituição ao que determinam os roteiros constitucionais. A primeira convocação partiu do ex-presidente Lula quando, num discurso em "defesa" da Petrobrás, convocou às ruas os exércitos do senhor Stédile, comandante em chefe das tropas do MST. Era fevereiro deste ano. Foi o estopim para que outro alto oficial das forças petistas, o presidente da CUT, Vagner Freitas, em agosto, engrossasse mais o caldo, conclamando os movimentos sociais a irem às ruas, entrincheirados, de armas nas mãos, "se tentarem derrubar a presidente".

Em 18 de setembro, foi a vez de um deputado federal do PT, João Daniel, em pronunciamento da tribuna, sair-se com esta: "Não se enganem! Esse impeachment terá cor de sangue, porque as ruas dirão que a classe trabalhadora não se renderá, não se curvará e não baixará a cabeça".

No discurso do parlamentar petista, os primeiros alvejados por essa mobilização de forças, como de hábito, foram os fatos. Ele proclamou da tribuna que a presidente Dilma é "firme e forte para conduzir um grande projeto para o país". Sim, claro, todo mundo percebe isso... Segundo ele, o que acontece com a presidente Dilma "é a humilhação contra as mulheres" motivada pelo "preconceito dos que, dentro, tem a força do fascismo". E foi em frente, acusando a oposição de "um golpe para manter o povo na miséria, para os ricos ganharem mais".

Ruim, não? A presidente, que ele diz "firme e forte" não consegue manter uma decisão por 24 horas. De que preconceito fala o deputado num país que elegeu e "reelegeu" uma mulher? Se a inquilina do Palácio da Alvorada tem apenas 7% de aprovação, isso significa que ela está sendo reprovada por 82% dos homens e mulheres que a elegeram. Por outro lado, essa história de que "os ricos querem os pobres na pobreza" é uma tolice marxista sem qualquer fundamento, porque numa sociedade livre todos se beneficiam do desenvolvimento econômico. E o desenvolvimento econômico gera desenvolvimento social. Mas, enfim, de onde menos se espera razoabilidade e discernimento é que não os haveremos de obter.

A questão suscitada pelas três manifestações guerreiras acima é esta: desde quanto a incitação à violência deixou de ser crime no país? Perdeu serventia e valor o disposto no art. 23 da Lei 7.177/83? Nele se lê que é punido com um a quatro anos de prisão quem "Incitar à luta, com violência entre as classes sociais".

Mas a lei... Ora, a lei!





Por Percival Puggina

O golpe bolivariano do STF e da OAB



A proibição das doações de empresas em campanhas eleitorais pelo STF, a pedido da OAB petista e com comemoração carnavalesca pelo PT e PSOL, é um golpe contra a democracia. Um golpe bolivariano aplicado para manter no poder quem já tem o poder. E o pior: com cara de algo legítimo, constitucional.

Não há país livre no mundo onde uma patuscada destas aconteça. Não existe eleição sem financiamento.

Criar limites, aprimorar as regras e dar transparência às doações é uma coisa. Criminalizar duramente quem desrespeitar as regras também. Mas proibir empresas que estão legalmente constituídas gerando empregos, renda e desenvolvimento de doar alegando que isso gera corrupção é raso, surreal, um atentado contra a liberdade. Seria como proibir o automóvel porque o Brasil é campeão mundial de mortes no trânsito.

Para quem não sabe, 95% das empresas brasileiras são micro e pequenas. E apenas 20 dentre as maiores empresas nacionais respondem por mais de 50% das doações para os grandes partidos. Portanto, o problema não são as doações e sim a distorção, que sempre pode ser corrigida. Ao invés de se jogar a água do banho fora, se jogou a água, a bacia e a criança junto.

Os espertos bolivarianos, apanhados no maior esquema de roubo de dinheiro da história brasileira, inventaram um discurso redentor, valeram-se da mídia amestrada para pautar o que é a verdade deles, conseguiram fazer as pessoas ingênuas repetirem que o "financiamento privado é a causa da corrupção" no país, e contaram com o STF ideológico de Toffoli e Lewandowski para colocar o cabresto. Bye bye, democracia. Bem-vindo, caixa dois bolivariano. Em breve as contas nos paraísos fiscais serão movimentadas para perpetuar a turma vermelha.

E mais. Ainda que eu não soubesse nada sobre o que foi discutido, pelo simples fato de PT e PSOL comemorarem como final de Copa do Mundo esta proibição tosca, é sinal de que não é bom para o país.

Ou o Congresso derruba essa porcaria fazendo uma emenda constitucional que permita a doação privada ou tratem de colocar uma estatueta do pixuleco no altar de casa. Mas não deixem a carteira por perto.



Por Diego Casagrande

Espantalhos, nazistas e coerência ética



Reduzir à politicagem uma questão que toca no valor da vida humana e na dignidade da vida e nos limites de definição do que é digno, correto ou errado fazer é, no mínimo, uma barbaridade.


Alguns seres humanos têm a capacidade de nos surpreender ao tornarem realidades as mais estapafúrdias hipóteses.

Explico melhor...

No livro A Morte da Medicina, joguei com a hipótese da perda de dignidade do feto e do bebê, e perguntei se caso não houvesse problema em matar um feto ou bebê por não o considerar pessoa, por que então haveria problema em vender suas partes ou degustá-lo como fina iguaria? Confesso que foi um gracejo na época, uma conductio ad absurdum de valor retórico, talvez.

E assisti surpreso a uma série de vídeos nos quais uma das maiores empresas abortistas do mundo, a Planned Parenthood, fundada pela excêntrica eugenista estadunidense Margareth Sanger, negociava pedaços de bebês e fetos, inclusive enquanto um “espécime” ainda com o coração batendo era dilacerado.

O que era hipótese grotesca e chocante virava realidade da noite para o dia.

Mas quando acho que posso tomar fôlego, eis que um novo fato surpreende. Em um dos melhores periódicos médicos do mundo é publicado um comentário no mínimo curioso, demonstrando certa indignação com a indignação alheia, reclamando dos incoerentes defensores da dignidade da vida humana[1]. Mas fico surpreso porque o artigo inteiro nada mais é do que uma série de proposições falaciosas ao redor de um grande espantalho[2] inventado pela autora Alta Charo, importante bioeticista da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos.

A autora começa reclamando sobre as grandes “vias de esperança” (avenues of hope) que poderão ser destruídas pelo ativismo de grupos politiqueiros. Segundo ela:

“(…) essas vias de esperança [para pacientes atuais e futuros por causa da pesquisa com tecido fetal] são ameaçadas [por meio do corte de verbas federais para a Planned Parenthood] por uma luta política pura – uma luta que, neste caso, não vai afetar de forma alguma o número de fetos abortados ou trazidos a termo, objetivo alegado pelos ativistas envolvidos.”

“(...) those avenues of hope [for current and future patients because of fetal tissue researching] are being threatened [by the Federal defunding of Planned Parenthood] by a purely political fight – one that, in this case, will in no way actually affect the number of fetuses that are aborted or brought to term, the alleged goal of the activists involved.”

Há vários erros no raciocínio exposto.

Declarar que tudo não passa de uma briga política é cometer um dos grandes crimes filosóficos dos quais se tem notícia: reducionismo. Reduzir à politicagem uma questão que toca no valor da vida humana e na dignidade da vida e nos limites de definição do que é digno, correto ou errado fazer é, no mínimo, uma barbaridade. É ignorar, ou preferir não reconhecer, que há sim elementos políticos na discussão, mas que esta discussão é algo muito mais sério, amplo e profundo do que a política, é uma questão que aborda diretamente a cosmovisão de toda uma nação, senão de uma civilização. É uma questão essencial para a definição de quem são afinal os norte-americanos.

Alta Charo também parece melindrada sobre bagunçar esperanças alheias em grandes descobertas num futuro hipotético. Mas, desde que Hans Jonas publicou sua obra chamando a atenção da comunidade mundial de bioeticistas sobre o princípio da Responsabilidade e do Temor[3] - sendo acusado por muitos incautos de conservador justamente por não advogar o progresso científico acima do bem do indivíduo concreto e real de nosso tempo -, analistas prudentes perceberam que nenhuma esperança em algo hipotético e, portanto, opcional, no futuro, pode justificar uma falha ética no presente. Logo, não há razões para melindres a respeito de expectativas futuras se houver razões para melindres a respeito de falhas éticas graves no presente.

E verdade seja dita: o que mais se tem quando se fala em células tronco embrionários é esperança.

Dizer também que o número de abortos não diminuirá por meio do ativismo político e social de defensores da vida de fetos e bebês também não é uma proposição muito adequada. Há que se ter um pouco mais de cautela, pois numa situação relativamente nova no conhecimento geral e pouco pesquisada e analisada, não se sabe se a disponibilização de um mercado de pedaços de bebês e fetos não geraria um grande aumento do número de abortos. Da mesma forma, não se pode afirmar que a proibição da destinação de verbas federais à Planned Parenthood não geraria uma redução no número de abortos. Quem sabe? Eu não sei, e creio sinceramente que Alta Charo também não pode afirmar saber.

A seguir ela diz:

“Ao ver de perto a pesquisa em tecido fetal, observa-se o dever de usar esse precioso tecido na esperança de encontrar formas de prevenir ou tratar doenças devastadoras. Virtualmente qualquer pessoa neste país se beneficiou da pesquisa com tecido fetal. Todas as crianças que foram poupadas dos riscos e sofrimentos da catapora, rubéola ou pólio podem agradecer aos ganhadores do Prêmio Nobel e outros cientistas que usaram tal tecido para produzirem a vacina que nos protege.”

(“A closer look at the ethics of fetal research, however, reveals a duty to use this precious resource in the hope of finding new preventive and therapeutic interventions for devastating diseases. Virtually every person in this country has benefited from research using fetal tissue. Every child who’s been spared the risks and misery of chickenpox, rubella, or polio can thank the Nobel Prize recipients and other scientists who used such tissue in research yielding the vaccines that protect us.”)

Realmente o número de pessoas que se beneficiou com o uso de tecido fetal é incontável em quase um século de vacinas. Mas do fato que se pode utilizar tecido fetal para beneficiar o próximo não se depreende que tal tecido tenha que ser colhido de ações eticamente questionáveis. Por que não colher apenas tecido fetal decorrente de situações eticamente inquestionáveis como aquelas em que ocorre aborto espontâneo ou traumático acidental? Por que não investir em meios de pesquisa mais avançados para proliferar o tecido obtido por meios menos controversos e fornecer material suficiente para pesquisa sem incorrer em questões existenciais que podem comprometer os valores de todo um povo?

Ou por que não investir em novos tecidos e novas técnicas capazes de evitar problemas éticos?

Acomodar-se, cobrar coerência e continuidade em relação a determinada linha de pesquisa e ridicularizar um dos lados da questão não parece ser realmente o melhor caminho. E se eu quiser fazer o meu espantalho também, parece algo bem reacionário dentro de um contexto progressista, se é que vocês me entendem...

Há também a cobrança de uma coerência por parte dos defensores enragé da vida:

“Críticos apontam para os abortos por trás da pesquisa, afirmam que são antiéticos, e argumentam que a sociedade não pode endossá-los ou até mesmo beneficiar-se deles, sob o risco de encorajar mais abortos ou tornar a sociedade cúmplice com o que eles veem como um ato imoral. No entanto, eles têm se utilizado sobremaneira das vacinas e tratamentos derivados da pesquisa com tecido fetal, e não dão indicação de que irão abrir mão de benefícios obtidos. Justiça e reciprocidade sugerem que eles têm o dever de apoiar o trabalho, ou ao menos, não o atrapalhar. ”.

(“Critics point to the underlying abortions, assert that they are evil, and argue that society ought not implicitly endorse them or even indirectly benefit from them, lest it encourage more abortion or make society complicit with what they view as an immoral act. Yet they have overwhelmingly partaken of the vaccines and treatments derived from fetal tissue research and give no indication that they will forswear further benefits. Fairness and reciprocity alone would suggest they have a duty to support the work, or at least not to thwart it.”)


Alta Charo cobra um determinado tipo de coerência no mínimo questionável. Exemplifico com uma analogia.

Suponhamos que a medicina nazista, utilizando judeus, prisioneiros de guerra ou crianças com retardo mental, tenha produzido um avançado medicamento no passado que salvou muitas vidas arianas e não arianas até os dias de hoje. Utilizar tal medicação e reconhecer seu benefício não quer dizer que, automaticamente, há que se assumir um compromisso em seguir fazendo pesquisa e medicina nos moldes nazistas, ou utilizando judeus, crianças deficientes ou prisioneiros.

É muito mais coerente cobrar que, ao ser descoberta uma ameaça à ética, tal ameaça seja imediatamente avaliada e que chances de perpetuar um erro sejam suspensas até que se saiba melhor qual caminho tomar. Parar com a “venda” de fetos ou suspender temporariamente o aporte de novos espécimes para pesquisa não implicará imediatamente no fim das pesquisas com os tecidos fetais já colhidos, ou até mesmo na coleta de novos tecidos à medida em que novos abortos espontâneos ou sob condições mais seguras do ponto de vista ético continuem acontecendo.

A autora prossegue menosprezando a perspectiva alheia e declara que:

“(...) parece óbvio que as necessidades de pacientes de hoje e do futuro superam o que só podem ser gestos simbólicos ou políticos de preocupação. ”

“(...) it seems clear that the needs of current and future patients outweigh what can only be symbolic or political gestures of concern.”


Só parece óbvio, mas não é. Nesse esquema lógico, uma premissa não bate. Há uma falta de empatia mortal ao debate intelectual. O pressuposto de que se está ao lado da verdade e do bem, e que o próximo é um hipócrita interesseiro ou um simplório incapaz de sentimentos genuínos e profundos não parece contribuir para o ambiente respeitável de diálogo e compreensão que a Bioética exige.

Dra. Charo também observa uma ironia, que descreve como o fato de que:

“reduzir o acesso à contracepção [ao deixar de custear com verbas do governo a Planned Parenthood, que também atua na distribuição de anticoncepcionais] é o caminho mais certo para aumentar o número de abortos.”

“reducing access to contraception is the surest way to increase the number of abortions.”


Mas antes de ser uma ironia há uma possibilidade em jogo. Pode muito bem ser possível que outras organizações sem entraves éticos como a Planned Parenthood tomem para si o papel de orientar acerca da contracepção. Pode ser que novos serviços surjam. Pode ser que o número de abortos até diminua, afinal de contas, quem faz o aborto e o defende pode, de uma hora para outra, não estar lá. Não é possível afirmar que tirar verbas do contribuinte norte americano da megaempresa abortista aumentará de fato o número de abortos. Isso seria brincar de prever o futuro sem muita fundamentação em exemplos históricos.

Por fim, o artigo encerra com um tom fortemente retórico e emocional, tentando exibir a feiura moral daqueles que discordam:

“Esse ataque representa uma traição às pessoas cuja vida poderia ser salva pela pesquisa, e uma violação do dever mais fundamental da medicina e da política de saúde, o dever de cuidar.”

“This attack represents a betrayal of the people whose lives could be saved by the research and a violation of that most fundamental duty of medicine and health policy, the duty of care.”



Se o ataque é uma traição a pessoas do futuro, porque a venda de órgãos de fetos e bebês não seria uma traição aos seres humanos do presente? Se o dever fundamental da medicina e das políticas de saúde é cuidar do próximo, onde está o cuidado com as vidas interrompidas, ou com a sua dignidade?

A preocupação da doutora Charo é plenamente compreensível e respeitável dentro de uma perspectiva progressista e cientificista. O mínimo que se espera de alguém de sua importância como figura pública, bioeticista e educadora, é um esforço genuíno para compreender que a postura daqueles que ela chama de traidores e politiqueiros também é respeitável dentro de suas próprias perspectivas.

Criar espantalhos ou menosprezar problemas éticos nessa altura do campeonato não ajudará em nada ao debate bioético de qualidade.






Por Hélio Angotti Neto
Deão da Escola de Medicina da UNESC, é o fundador do Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina (SEFAM) e autor do livro A Morte da Medicina.


Notas:



[1] CHARO, Alta. Fetal Tissue Fallout. New England Journal of Medicine, 373(10), September 3, 2015, p. 890-891.


[2] Evocar um espantalho numa discussão, debate ou argumentação é criar uma versão estereotipada de seu “adversário” e passar a atacar a própria criação ao invés de abordar a pessoa real com quem se relaciona.


[3] JONAS, Hans. Princípio Responsabilidade – Ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro, RJ: Editora Contraponto, 2006.





Liberdade para escravizar-se?


Aqueles que detêm e fazem péssimo uso do poder político e financeiro não querem lidar com sujeitos sóbrios e verdadeiramente críticos; preferem uma sociedade literalmente entorpecida.


Em um país como o Brasil, cuja insegurança e cujo morticínio fazem regiões conflagradas mundo afora parecerem parques de diversões, não é nada prudente deter-se em discussões como a da legalização das drogas. Todavia, torna-se urgente dizer algumas palavras sobre isso, posto que se propõe desperdiçar tempo e dinheiro público no Congresso Nacional e no Supremo Tribunal Federal, em debates sobre se os brasileiros devem ou não ser livres para se entorpecerem. Aliás, “entorpecer” é tornar torpe, causar torpor, perder a energia – retardar. Pois abro parênteses aqui: sou a favor da liberação das drogas a quem disser: “Sim, sim! Desejo honestamente deixar-me retardar. Quero mesmo é ser um grandissíssimo retardado!”. Neste único caso, defendo o direito ao uso e ao abuso de narcóticos, em nome da seleção natural. De resto, seguem minhas considerações.

Primeiramente, a quem defende o uso de substâncias como maconha e cocaína como exercício pleno de liberdade, digo: não há liberdade alguma no vício; há apenas escravidão. Nas preferências e nos prazeres humanos, busca-se, desde Aristóteles e Confúcio, o caminho do meio, a temperança. Sexo, álcool, comida e jogos, por exemplo, são boas coisas se mantidas sob controle; exagerar em seu uso ou consumo redunda em perder as rédeas e tornar-se escravo. Procure relatos de ninfomaníacos, alcoólatras, glutões e viciados em jogos: invariavelmente, a satisfação do começo, dos tempos de uso controlado, é logo substituída por uma dependência doentia, na qual se cede ao vício de forma automática, irrefletida, sem o gozo do prazer racional. Já no caso dos entorpecentes, o problema está em sua essência e é expresso em seu nome: entorpecem, causam torpor, alteram o estado de consciência do usuário, mesmo em pequenas doses, desde o primeiro uso, o que de forma alguma se relaciona com liberdade e dignidade humana. Não há, portanto, meio-termo e temperança no uso de maconha e cocaína – o retardo e a estupidez sobrevêm já às primeiras tragadas e inaladas.

Saindo da dimensão pessoal, aportemos na questão política. O leitor já se perguntou a quem – além de adultos imaturos (ou adolescentes tardios) – interessa a descriminalização e até a legalização das drogas? Não é preciso pensar muito para concluir que aqueles que detêm e fazem péssimo uso do poder político e financeiro não querem lidar com sujeitos sóbrios e verdadeiramente críticos; preferem uma sociedade literalmente entorpecida, composta por indivíduos que se deixam guiar e controlar por vícios e desejos primários. Além disso, pesquise e descubra que alguns dos maiores financiadores de campanhas de liberação de entorpecentes em todo o mundo são pessoas e instituições bilionárias, como a Open Society, do especulador George Soros, que financia a “luta” pela legalização das drogas em países subdesenvolvidos como o nosso, com interesse tanto no controle subjetivo exposto acima como nos bilhões de dólares do narcotráfico.

Ademais, a legalização não acabará com o comércio ilegal de drogas, da mesma forma como não acabou com o tráfico de outros itens, de cosméticos a medicinais. O efeito primeiro dessa medida seria transformar grandes traficantes em empresários bem-sucedidos, premiando-os por seus anos dedicados ao crime e ao assassínio de devedores, concorrentes e agentes de segurança. Por fim, os impostos que o Estado lucraria com a regulamentação desse mercado não cobririam os custos refletidos na saúde pública de uma nação que já conta com problemas demais – e não deve estimular que seu povo se dê ao luxo de usar sua liberdade para escravizar-se.



Por Mateus Colombo Mendes
Editor, redator e empresário.



Publicado na Gazeta do Povo.

O Papa esquece os oprimidos de Cuba



Se o Papa Francisco realmente queria falar para os oprimidos, há onze milhões deles em Cuba.


Em 1960, os bispos cubanos, declararam que "o catolicismo e comunismo respondem a dois conceitos totalmente diferentes do homem e do mundo que nunca será possível conciliar." O Papa Francisco, no entanto, afirma que comunismo é na realidade cristianismo. "Os comunistas têm roubado a nossa bandeira", disse ele.

Os bispos cubanos condenaram o comunismo como "um sistema que brutalmente nega os direitos mais fundamentais do ser humano." As críticas do Papa Francisco ao regime de Castro foram limitadas a oblíquas referências, um apelo por liberdade religiosa para os católicos e críticas gerais que poderiam ser aplicadas a Cuba ou a qualquer um de inúmeros outros lugares. Ele não conseguiu sequer reiterar suas velhas críticas ao regime.

Dissidentes cubanos foram impedidos de encontrar o Papa Francisco e até mesmo o "trajeto de boas vindas" que havia sido planejado foi fechado quando as autoridades comunistas detiveram dissidentes políticos. Quando os manifestantes arriscaram sua liberdade para chegar perto dele, foram presos sem receber qualquer reconhecimento do papa. Os Castros conseguiram suas reuniões e sua publicidade.

Os oprimidos, para quem o Papa Francisco alegou que se pronunciaria durante a sua visita e durante suas viagens internacionais, foram deixados de fora no frio. Eles foram tratados com outra referência indireta, quando o Papa Francisco expressou seu desejo de "abraçar especialmente todos aqueles com os quais, por vários motivos, eu não pude me encontrar."

"Simplesmente não nos parece estar certo ou mesmo que o papa não tenha um pouco de tempo para se encontrar com os cubanos que estão defendendo os direitos humanos", disse o chefe da maior organização dissidente do país.

Papa Francisco falou do acordo de Obama com Castro como um "processo de normalização das relações entre os dois povos, após anos de afastamento." Mas ele sabe muito bem que não é nada desse tipo. Os cubanos não são estranhos aos refugiados cubanos na América por falta de relações diplomáticas, mas pela supressão brutal de liberdade política e religiosa pelo regime de Castro.

O acordo de Obama não reúne os "dois povos"; ele põe dinheiro nos bolsos de um regime que o Papa Francisco tinha chamado de corrupto e autoritário. Ele permite que os esquerdistas americanos visitem Cuba para o comércio de prostitutas menores de idade, o que se tornou notório. Esta não é reconciliação. É exploração.

O sinal mais claro do que está por trás do verdadeiro "estranhamento" em Cuba pode ser encontrada na declaração de 1960, que sustentou que "a maioria absoluta do povo cubano, que é formada por católicos... só por engano ou coerção pode ter sida levada a um regime comunista."

Hoje, o inverso é verdadeiro, pois, engano e coerção cobraram seu preço.

Os bispos cubanos desafiaram o regime de Castro como uma questão de consciência. E eles pagaram o preço. A repressão de Castro sobre a Igreja Católica nos anos 60 tem sido amplamente ignorada por uma mídia que está ansiosa para contar uma história muito diferente. Mas ela parece ter sido tão tragicamente esquecida pelo Papa Francisco.

Francisco poderia ter lembrado do bispo Eduardo Boza Masvidal que foi preso várias vezes e cuja igreja foi bombardeada depois de exortar os cubanos a lembrarem de "todos aqueles que lutam e sofrem perseguição sob regimes comunistas." E o papa poderia ter lembrado de suas palavras que o regime comunista de Cuba é "baseado em ódio e luta de classes em vez de amor... é uma coisa terrível ensinar um povo a odiar. É uma das coisas mais anticristãs, que podem ser feitas."

Quando o papa Francisco tenta fazer causa comum com os marxistas em torno da luta de classes, ele está fazendo causa comum com o ódio, em vez de amor, no ressentimento de divisão, em vez da reconciliação. É um plano que não só está fadado ao fracasso, mas está fadado a sair pela culatra, espalhando mais ódio em vez de amor.

Como Che Guevara tinha insistido, "o ódio é o elemento central de nossa luta... O ódio que é intransigente... O ódio tão violento que impulsiona o ser humano além de suas limitações naturais, tornando-o violento e uma fria máquina de matar sanguinária... Para estabelecer o socialismo, rios de sangue devem correr."

Este é o terrível objetivo final de espalhar a luta de classes. O ódio se enraíza e cria monstros.


Padre José Conrado, que realmente vive em Cuba, fornece um modelo muito diferente que desafia a autoridade do regime de Fidel Castro, ao invés de tentar encontrar um terreno comum com ele. Conrado tinha desafiado o ditador de Cuba sobre a existência de "prisioneiros de consciência" e restrições sobre "as liberdades mais básicas: de expressão, de informação, de imprensa e de opinião, e sérias restrições à liberdade de religião"

Ele não fez isso em 1960, mas apenas alguns anos atrás. Antes da visita do papa, ele disse, "Eu não posso ignorar o sofrimento do meu povo, as injustiças que eu acredito que são evitáveis. Dante disse que o nono círculo do inferno, o pior de todos os círculos, é reservado para aqueles que em tempos de crise cruzam os braços e fecham suas bocas".

A mudança política não acontece sem coragem política. E autoridade moral não é exercida tolerando a imoralidade. A autoridade moral de um regime totalitário não repousa sobre o amor, mas no medo. A timidez em face da tirania defende aquela autoridade moral de terror político. Ela cede ao medo.

"O medo gerado por um regime totalitário não está definido. É um medo que provoca uma angústia paralisante porque não se pode até mesmo definir exatamente o que é que se teme. O que eles podem nos fazer? Eles podem tirar nossas vidas? Eles podem tirar a nossa honra, por falarem mal de nós, com campanhas de difamação? Eles fazem isso o tempo todo", disse o padre José Conrado.

A religião pode dar às pessoas a coragem de desafiar esse medo. Ela pode mostrar a um povo oprimido as mesquinhas limitações de tiranos que dependem de intimidação para sua autoridade. Pode dotar o desafiante com autoridade moral. É um grave erro sacrificar essa autoridade moral em troca de conciliação com tiranos.

Em 1960, o clero de Cuba entendeu que não poderia haver uma base comum com o comunismo, que tinha de ser desafiado, mesmo que o desafio fosse condenado, porque a cumplicidade com o mal iria corrompê-los.

Poucos servem como melhor exemplo do que Javier Arzuaga, o ex-padre de esquerda que tinham apoiado Castro, apenas para fugir chocado e horrorizado com a carnificina.

"No dia em que saí, Che disse-me que nós dois tínhamos tentado trazer um ao outro para o seu lado e tínhamos falhado”. Suas últimas palavras foram: "Quando jogarmos fora nossas máscaras, seremos inimigos", lembrou Arzuaga.

Os Castros colocaram suas máscaras de novo, mas por baixo há um regime totalitário baseado na brutalidade e no ódio. Debaixo de suas máscaras, eles são o inimigo. Ajudá-los é arriscar-se a tornar-se cúmplice de seus crimes.

Se o Papa Francisco realmente queria falar para os oprimidos, há onze milhões deles em Cuba. Eles não são oprimidos pelo capitalismo nem pelo aquecimento global. Eles são oprimidos por esse medo, a angústia paralisante que ele traz e a apatia que vem com ele. Eles precisavam de armas contra esse medo.

A visita do papa deu aos Castros o que eles queriam, mas não conseguiu dar ao povo cubano o que eles precisavam.




Por Daniel Greenfield

Publicado no The FrontPage Magazine.

Tradução: William Uchoa

Pode o dólar passar de R$ 6?


Pronto. Dobramos a meta. O dólar ultrapassou a marca de R$ 4, quebrando mais um recorde no Plano Real – a maior marca de toda a história da moeda brasileira –, outro feito nada invejável do atual governo.

Para muitos economistas, câmbio a R$ 4 já uma realidade difícil de mudar. Os prognósticos variam apenas na intensidade com que o dólar irá subir nos próximos meses.

Há pouco mais de um mês escrevi um artigo para analisar se o dólar estava caro ou barato e até onde poderia ir. A conclusão então é a mesma que segue: o real já está bem subvalorizado, bem abaixo do que seria o seu valor justo, ou correto, de acordo com a teoria da paridade de poder de compra. O preço de "equilíbrio" do dólar estaria situado ao redor de R$ 3,15.

Como cheguei a essa conclusão? Utilizando a taxa de câmbio real (TCR), a qual considera a variação do poder de compra das duas moedas — real e dólar, calculados pelos índices de preços ao consumidor de cada país (IPCA e CPI) —, podemos aferir qual seria o valor justo para o câmbio. Isso não significa afirmar que o dólar a R$ 4,13 esteja errado. O preço praticado pelo mercado neste momento é esse e ponto.

O que a análise da TCR evidencia é o quão descolado dos fundamentos está o câmbio. Em outras palavras, levando em conta apenas a variação da depreciação relativa entre duas moedas — a velha teoria da paridade de poder de compra —, um dólar acima de R$ 3,15 não pode ser explicado apenas pelos fundamentos, há outras forças em jogo levando o câmbio para longe do que seria razoável.

Atualizado o gráfico da taxa de câmbio "correta" com os dados de julho e agosto, vemos que o dólar de equilíbrio subiu de R$ 3,11, em junho, para R$ 3,15.


E como evoluiu a própria TCR calculada pelo Banco Central (Bacen)?


Ao fim de junho, a TCR estava em 99,8; mas após a subida incansável do dólar, o índice fechou o mês de agosto em 111,61, apontando um desalinhamento considerável em relação ao valor justo — quanto mais distante de 100, mais em "desequilíbrio" estaria a taxa de câmbio.

E assumindo que a cotação da moeda americana permanecerá no nível atual por mais alguns dias, ao fim de setembro a TCR indicará um descolamento ainda mais proeminente.

De fato, o câmbio atingiu a marca histórica de R$ 4, superando a cotação alcançada lá no final de 2002 quando o dólar quase chegou nesse patamar. Mas o câmbio a R$ 4 em 2015 é comparável ao câmbio a R$ 4 em 2002? Para responder essa pergunta, analisemos novamente o gráfico da TCR.

A maior marca registrada pelo índice foi de 206,11 em outubro de 2002, mês das eleições presidenciais quando o câmbio disparou para cerca de R$ 4. Era o auge da turbulência dos mercados, fruto do temor de um futuro governo de esquerda ansioso para avacalhar com o Plano Real e minar os fundamentos da economia.

Hoje, porém, o dólar sendo negociado a R$ 4 não levará a TCR para 206. Considerando que em agosto o índice alcançou 111, quando o câmbio estava ainda ao redor de R$ 3,50, a TCR atualmente deve situar-se entre 120 e 130.

O exercício interessante a fazer, então, é: se tivéssemos hoje o mesmo descolamento entre câmbio vigente e câmbio correto lá de 2002, qual seria o dólar atualmente? Dito de forma mais direta, se a TCR fosse hoje 206,11, o mesmo patamar de outubro de 2002, qual seria o dólar implícito hoje? Nada menos que R$ 6,50!

Essa é a resposta da pergunta feita anteriormente: o dólar a R$ 4 em 2002 equivale a um dólar ao redor de R$ 6,50 hoje.

Isso quer dizer que em 2002 o descolamento do câmbio de mercado do seu valor justo foi uma absurdidade, o que comprova o quanto o mercado desconfiava de um futuro governo petista no poder.

A pergunta que ninguém sabe responder é: será que o dólar passa de R$ 5? Será que passa de R$ 6?

No artigo anterior, concluí dizendo que: "Em 2002, as contas estavam ajustadas internamente, mas um tanto vulneráveis no front externo. Ao contrário daquele ano, hoje o desajuste está nas contas internas. Mas de forma semelhante àquele ano, o câmbio virou novamente um termômetro da desgovernança política brasileira".

De fato, a rápida subida do termômetro do dólar reflete rigorosamente o que ocorreu desde então. Em menos de 30 dias o governo Dilma Rousseff fez lambança atrás de lambança — como o orçamento com déficit primário enviado ao congresso, algo inédito na história contemporânea do país —, levando o mercado a questionar cada vez mais a saúde fiscal do governo e a reduzir as projeções de crescimento econômico e, de quebra, antecipando o rebaixamento da classificação de risco do país pela agência Standard &Poors.

Confesso ter subestimado a capacidade do governo de desgovernar em tão pouco tempo. A aptidão desse time para aprofundar ainda mais a crise política e econômica é ímpar. Isso o mercado não perdoa, e o câmbio é o reflexo direto do caos institucional e econômico que vivemos.

A situação atual é semelhante à de 2002? Em parte sim, pois há uma enorme incerteza quanto aos rumos políticos, cujos desdobramentos afetarão diretamente a economia brasileira. Mas há diferenças importantes também.

Naquela época, as contas externas estavam bastante vulneráveis, hoje não estão. Mas em 2002, a economia real não estava tão bagunçada quanto hoje está. Não estávamos diante da forte recessão que hoje bate à porta de todos os cidadãos.

A alta do dólar de 2002 deveu-se a uma crise de confiança clara e bastante pontual. A correção daquela conjuntura não era uma tarefa hercúlea. Bastava o governo Lula sinalizar ao mercado que manteria a política econômica longe das heterodoxias propostas pela ala radical do Partido dos Trabalhadores e a confiança retornaria para acalmar o câmbio. Foi justamente o que aconteceu. Felizmente.

Hoje estamos em uma situação muito mais complexa, pois o quadro político é mais imprevisível que o de 2002, e os ajustes necessários para reconduzir a economia ao crescimento são muito mais profundos. Por isso tudo esta já é a pior crise da história do Plano Real com alta probabilidade de agravar-se ainda mais.

Pode o dólar chegar a R$ 6? Sinceramente, pode. É claro que pode. É provável? Teimarei mais uma vez em afirmar que não. A verdade é que na atual conjuntura, qualquer previsão é especulação pura. Wild guessing.

Mas em vez de prever se o câmbio superará R$ 5 ou R$ 6, a resposta mais precisa, talvez, seja afirmar que o dólar dificilmente volta para R$ 3 tão cedo — se é que voltará algum dia. Ao que tudo indica, dificilmente baixará de R$ 4.

A prosperidade ilusória da última década acabou. Estamos de volta à realidade.

Mas, em caso de dúvida, compre dólar.





Por Fernando Ulrich
Mestre em Economia da Escola Austríaca, com experiência mundial na indústria de elevadores e nos mercados financeiro e imobiliário brasileiros. É conselheiro do Instituto Mises Brasil, estudioso de teoria monetária, entusiasta de moedas digitais, e mantém um blog no portal InfoMoney chamado "Moeda na era digital". Também é autor do livro "Bitcoin - a moeda na era digital".

terça-feira, 22 de setembro de 2015

E se você fosse o governo brasileiro agora?



Seu filho não quer cortar gastos, sua mulher não aceita contribuir mais com o orçamento da casa. Há uma solução, mas ela exige que você reveja antigos preconceitos


Pois é, a coisa está feia. Já faz um tempo que você avança no cheque especial. Gasta mais do que recebe e, para piorar, sua lojinha vem arrecadando menos todo mês. Para piorar um pouco mais, o agiota que compra as suas notas promissórias já está desconfiando da sua reputação de bom pagador. Na tentativa de acalmá-lo, você promete quitar a dívida com juros mais altos, e assim a bola de neve vai aumentando.

Bate um arrependimento, né? Estava indo tudo tão bem. Mas nos últimos quatro anos você esculhambou o orçamento. Gastou mais em casa, se encheu de funcionários, facilitou o crédito para os clientes e deu empréstimos meio malucos. Esperava que outras pessoas da cidade tomassem a mesma atitude e comprassem mais na sua lojinha de material de construção. Não deu certo. Você se endividou, eles também.

O jeito é sentar e pensar em soluções. A primeira é cortar gastos, mas isso causa uma reclamação danada em casa. Seu filho se acostumou com Negresco – não quer mais saber de Mabel. Se diminuir a mesada da sogra, a coitada morre de fome. A escola dos seus filhos e o plano de saúde já não são uma maravilha – sua mulher vive dizendo que é preciso investir mais em saúde e educação. Se você cortar gastos nessas áreas, é capaz dela pedir o divórcio. Para diminuir as despesas, é preciso ter pulso firme e assumir uma postura de mau. Mas você conquistou a patroa jurando ser o cara mais bonzinho do mundo.

A segunda alternativa é pedir para a família ajudar um pouco mais. Difícil. Sua filha trabalha o dia todo, ganha uma miséria e está cansada de contribuir com 40% do salário. Sua mulher reclama que você já exige muito da família, gasta demais com si próprio e dá muito pouco em troca. Se você insistir na ideia, é capaz dela se mudar para Miami e levar todo o dinheiro para aquele morenão charmoso de quem você morre de ciúmes.

Apesar do risco, você joga o assunto na mesa. Todos dizem que a chance de aprovar a nova alíquota é ínfima. “Mas é só uma contribuição provisória”, você insiste. Eles fazem “não” com a cabeça. “Juro que é provisória”, você diz, quase chorando. Eles não acreditam mais em você.

Quando tudo parecia sem saída, você vislumbra uma alternativa viável: vender a casa de praia! Com o dinheiro da venda do sobrado no Guarujá, você poderia quitar parte da dívida. E ainda se livraria de todas as despesas de manutenção do sobrado. Não precisaria mais aturar aquele picareta do caseiro, que de vez em quando inventa a necessidade de reformas só para cobrar propina do pedreiro e do encanador. Tem mais. Os possíveis compradores da sua casa fariam uma boa reforma – e comprariam os materiais na sua lojinha. Eles ainda prometem pagar a você, em forma de royalties e outras obrigações, uma porcentagem do dinheiro que conseguirão alugando o sobrado durante a temporada. Pronto, achamos uma solução. Bora vender a casa de praia!

Eu sei, tem um problema. Sua família adora o sobrado no Guarujá. Tem o maior carinho por ele. Anos atrás, quando você pensou em vendê-lo para uns estrangeiros, seu filho surtou e passou anos gritando “o sobrado é nosso!”. Ainda acusou você de querer dilapidar o patrimônio da família e entregar aos gringos uma riqueza tão valiosa. Mas veja: em tempos de crise, é preciso ter maturidade e virar a página ideológica. A venda do sobrado no Guarujá ainda impressionaria o agiota, e você, com mais credibilidade, poderia emprestar dele com juros menores. Vai por mim: é a melhor opção.

Ouvi dizer que você está cogitando fingir que está tudo bem, continuar gastando e empurrar o problema para frente. Quando der tudo errado, você semearia o conflito em casa. Diria a sua filha que a culpa é toda do irmão dela, aquele integrante da elite rentista que tem horror aos pobres. Convenceria a sua mulher que a ganância do agiota causou os problemas em casa. Quando todos estiverem em guerra, você sairia de fininho e apagaria a luz.

Por favor, não faça isso. Deixe de onda e venda logo a casa de praia.




Por Leandro Narloch

Coxinha e caviar: quando o estereótipo vale, e quando não vale



Se o uso do termo "coxinha" nada diz, se serve somente para tentar desqualificar aqueles que condenam o PT, a expressão "esquerda caviar", por outro lado, faz tudo sentido e toca numa ferida, expõe uma gritante hipocrisia de boa parte da esquerda.


Rótulos e estereótipos servem para simplificar o mundo, para que possamos encaixar em alguns conceitos toda uma gama de crenças, ideias e posturas. Claro que, por definição, tais rótulos serão simplistas, incapazes de abranger toda a complexidade do ser humano. Isso não quer dizer, contudo, que sejam inúteis ou sempre inadequados. Ao contrário: eles exercem importante função em nossas vidas, pois nos permitem ter uma ideia melhor das coisas sem precisar dedicar um tempo infinito a cada detalhe de cada um.

Capitalista e socialista, portanto, servem para mostrar se uma pessoa defende a liberdade econômica, a propriedade privada e o império da lei, ou se ela quer concentrar no estado o controle da economia, quer igualdade de resultados em vez de liberdade e prefere a “justiça social” ambígua em vez da mesma regra valer para todos. Dentro de cada rótulo há inúmeras nuanças, sem dúvida, mas como discordar de que separar os dois grandes grupos facilita e ajuda muito nos debates e compreensão?

O mesmo para esquerda e direita, para coletivista e individualista etc. Pegar um extremo caricato desse rótulo e transformá-lo num estereótipo, como se todo esquerdista fosse, por exemplo, um comuna de faculdade com camisa do Che Guevara que adora Cuba, isso seria absurdo, sem dúvida. É o que, infelizmente, algumas pessoas fazem, impedindo um debate honesto. Todo anticomunista vira, assim, um “fascista”, e por aí vai. Aliás, boa parte da esquerda mais radical adora essa estratégia.

Mas há, ainda, outra tática comum, que é bancar o “neutro”, o “imparcial”, e condenar todos os rótulos e estereótipos, jogando tudo na vala comum. Ayn Rand percebeu essa tática da esquerda há anos: condena tanto o comunismo como o fascismo e o capitalismo. Reparem que coisa: jogou no mesmo saco podre duas ideologias totalitárias, assassinas, ao lado do capitalismo, que retirou milhões da miséria e preservou a liberdade individual. É como alguém condenar a peste bubônica, o câncer e a sogra. Pobre sogra, sabe que é o único alvo verdadeiro do ataque…

O sociólogo Antonio Engelke, que já foi citado nesse blog por conta de um artigo em que condenava o “dogma” da austeridade, publicou hoje um texto no GLOBO atacando tanto o termo “coxinha” como a expressão “esquerda caviar”. Seu argumento foi justamente o de que são estereótipos que não capturam a complexidade do mundo. Mas faz sentido jogar no mesmo saco ambos? Ou será que, com essa tática, ele quer no fundo criticar quem aponta todas as incoerências, contradições e hipocrisias de uma esquerda “defensora” do socialismo que ama o capitalismo?

Não creio que o sociólogo tenha lido de fato meu livro Esquerda Caviar. Se tivesse lido, saberia que, na primeira parte, dediquei nada menos do que vinte possíveis explicações para a origem do fenômeno. Ou seja, sei perfeitamente que se trata de algo complexo, que vários caminhos podem levar as pessoas a essa situação de paradoxo. Mas está bem claro que tipo de esquerdista está sendo exposto com o uso da expressão. Engelke cita os “liberais” americanos, do Partido Democrata, ou a “ala mais sóbria” do PSDB, mas esses são vistos como “direita neoliberal” pela esquerda caviar brasileira.

É engraçado que o sociólogo cita Francisco Bosco para fazer seu ponto, como se essa ala da esquerda quisesse apenas reformar o capitalismo e combater suas desigualdades. Bosco defende os black blocs, o PSOL, o socialismo! Ou seja, para condenar quem faz uso da expressão “esquerda caviar”, o sociólogo acaba dando razão a essas pessoas. Essa turma não quer reformar o capitalismo, mas acabar com ele. Condena o lucro, a ganância, o livre mercado, e se beneficia de tudo que só o capitalismo pode oferecer. Se isso não é hipocrisia, não sei o que é!

No mais, resta o velho e manjado monopólio da virtude, outra marca registrada da esquerda. Alguns ícones da esquerda caviar alegam que não desejam punir os ricos, e sim que todos sejam ricos, possam ter os mesmos bens materiais. Ora, e clamam por medidas socialistas, estatizantes? Mas na prática elas aumentam a miséria e até mesmo as desigualdades! Detalhes. O que importa é bancar o abnegado de forma populista e demagógica. “Sou pelos mais pobres”, diz o sujeito. E como, exatamente? “Defendendo taxação sobre fortunas, imposto de renda de 80% e sempre mais estado”, responde. Assim complica…

Se o uso do termo “coxinha” nada diz, se serve somente para tentar desqualificar aqueles que condenam o PT, a expressão “esquerda caviar”, por outro lado, faz tudo sentido e toca numa ferida, expõe uma gritante hipocrisia de boa parte da esquerda. Como defender Cuba e viver em Paris? Como elogiar a Venezuela e gozar de liberdade de expressão? Como cuspir na ganância e só pensar em acumular mais fortuna?

É por ter mexido nesse vespeiro que vemos essa reação da esquerda caviar. Ela tenta desqualificar de toda forma aqueles que finalmente acordaram para todo um discurso hipócrita, inconsistente, de quem deseja apenas bancar o altruísta igualitário, enquanto vive como um nababo. Jogar a expressão “esquerda caviar” no lixo ao lado de “coxinha”, termo idiota que não diz absolutamente nada de relevante, é uma tática antiga da esquerda. Vamos condenar o assassino, o estuprador e, sim, o banqueiro. Ficará claro qual é o verdadeiro alvo, não é mesmo?







Por Rodrigo Constantino

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

O que é realmente o socialismo e qual o seu maior problema



Não há nada mais prático do que uma boa teoria.

Por isso, proponho-me a explicar em termos teóricos o que é o socialismo e por que ele não apenas é um erro intelectual, como também é uma impossibilidade científica. Mostrarei por que ele se desmoronou — ao menos o socialismo real — e por que o socialismo que segue existindo na forma de intervencionismo econômico nos países ocidentais é o principal culpado pelas tensões e conflitos de que padece o mundo atual.

Ainda estamos vivendo em um mundo essencialmente socialista, não obstante a queda do Muro de Berlim; e continuamos tolerando os efeitos que, segundo a teoria, são próprios da intervenção do estado sobre a vida social.

Para definir o socialismo, é necessário antes entendermos o conceito de "função empresarial". Os teóricos da economia dizem que a função empresarial é uma capacidade inata do ser humano. Não estamos nos referindo aqui ao empresário típico que leva adiante um empreendimento. Estamos nos referindo, isso sim, à capacidade inata que todo ser humano tem de descobrir, criar, tomar conhecimento das oportunidades de lucro que surgem ao seu redor e atuar de modo a se aproveitar das mesmas.

Com efeito, etimologicamente, a palavra 'empresário' evoca o descobridor, alguém que percebe algo e aproveita a oportunidade. Em termos mais figurativos, seria a lâmpada que se acende.

A função empresarial é a mais essencial das capacidades do ser humano. Essa capacidade de criar e de descobrir coisas é o que, por natureza, mais nos distingue dos animais. Neste sentido geral, o ser humano, mais do que um homo sapiens é um homo empresario.

Quem seria, portanto, um empresário? Não se trata apenas de Henry Ford ou de Bill Gates, que sem dúvida alguma são grandes empresários no âmbito comercial e econômico. Um empresário é toda e qualquer pessoa que tenha uma visão criativa, uma visão revolucionária. Madre Teresa de Calcutá, por exemplo. Sua missão era ajudar aos mais necessitados, e ela buscava fazer isso de forma criativa, unindo voluntários e canalizando os desejos de todos para o seu objetivo. Por isso, Teresa de Calcutá foi um exemplo paradigmático de empresário.

Portanto, entendamos a função empresarial como sendo a mais íntima característica de nossa natureza como seres humanos, a característica que explica o surgimento da sociedade e o seu desenvolvimento como uma extremamente complicada rede de interações. A sociedade é formada por inúmeras relações de interação e troca entre indivíduos, relações estas que são empreendidas porque, de alguma forma, imaginamos que estaremos melhor após elas. Todas estas relações são impulsionadas por nosso espírito empresarial.

Todo ato empresarial produz uma sequência de três etapas.

A primeira consiste na criação da informação: quando um empresário descobre ou cria uma ideia nova; quando ele gera em sua mente uma informação que antes não existia.

Para colocar essa descoberta em prática, ele parte para a segunda etapa, que é quando ele combina recursos para satisfazer necessidades. Se, de um lado, ele percebe que há um recurso barato e mal aproveitado, e, do outro, ele descobre que há demandas que podem ser satisfeitas com este recurso, ele irá atuar de modo a coordenar este "desarranjo". Ele irá comprar barato o recurso, utilizá-lo, transformá-lo, e vendê-lo a um preço maior, satisfazendo assim a demanda que ele havia percebido.

Desta forma, a informação é transmitida a todos, o que nos leva à terceira e última etapa, que é quando os agentes econômicos, atuando de maneira descoordenada, observam, aprendem e descobrem que devem conservar e economizar melhor um determinado recurso porque alguém o está demandando.

Estes são os três planos que completam a sequência: criação de informação, transmissão de informação e, o mais importante, o efeito de coordenação gerado pelas duas etapas anteriores.

Desde o momento em que acordamos e nos levantamos da cama até o momento em que voltamos a dormir, disciplinamos nosso comportamento em função das mais distintas necessidades, em função das necessidades de pessoas que nem sequer conhecemos; e fazemos isso por iniciativa própria porque, seguindo nosso próprio interesse empresarial, sabemos que assim saímos ganhando. É importante entendermos tudo isso porque, em contraste, vejamos agora o que é o socialismo.

O socialismo deve ser definido como sendo "todo e qualquer sistema de agressão institucional e sistemática contra o livre exercício da função empresarial". O socialismo consiste em um sistema de intervenção que se impõe pela força, utilizando todos os meios coercitivos do estado.

O socialismo poderá apresentar determinados objetivos como sendo bons, mas terá de impor estes objetivos supostamente bons por meio de intervenções coercivas que provocarão distúrbios neste processo de cooperação social protagonizado pelos empresários. Sendo assim — e essa é sua principal característica —, o socialismo funciona por meio da coerção. Esta definição é muito importante porque os socialistas sempre querem ocultar sua face coerciva, a qual é a essência mais distintiva de seu sistema.

A coerção consiste em utilizar a violência para obrigar alguém a fazer algo. De um lado temos a coerção do criminoso de rua que assalta um indivíduo qualquer; de outro temos a coerção do estado, que é a coerção que caracteriza o socialismo. Quando a coerção é aleatória, não sistemática, o mercado tem, na medida do possível, seus próprios mecanismos para definir direitos de propriedade e defender-se da criminalidade.

Porém, se a coerção é sistemática e advém institucionalmente de um estado que detém todos os instrumentos do poder, a possibilidade de nos defendermos destes instrumentos e evitá-los é muito reduzida. É neste ponto que o socialismo manifesta sua realidade em toda a sua crueza.

O socialismo não deve ser definido unicamente em termos de propriedade pública ou privada dos meios de produção. Isso é um arcaísmo. A essência do socialismo é a coerção, a coerção institucional oriunda do estado, por meio da qual se pretende que um órgão planejador se encarregue de todas as tarefas supostamente necessárias para se coordenar toda uma sociedade.

A responsabilidade é retirada à força dos indivíduos — que são naturalmente os únicos responsáveis por sua função empresarial, e que almejam seus objetivos e querem alcançá-los utilizando os meios mais adequados para tal — e repassada a um órgão planejador que, "lá de cima", pretende impor por meio da coerção sua visão específica de mundo e seus objetivos particulares.

[N. do E.: no Brasil, pense nas agências reguladoras que cartelizam todo o mercado e impedem a livre iniciativa e a livre concorrência, em todos os ministérios que impõem a agenda de seus integrantes sobre toda a população brasileira, em toda a burocracia que atrapalha o empreendedorismo dos pequenos, e em toda a carga tributária que impede o surgimento de novas empresas].

Nesta definição de socialismo, vale enfatizar que é irrelevante se este órgão planejador foi ou não eleito democraticamente. O teorema da impossibilidade do socialismo se mantém intacto, sem nenhuma modificação, independentemente de ser democrática ou não a origem do órgão planejador que quer impor à força a coordenação de toda a sociedade.

Definido o socialismo desta maneira, expliquemos então por que ele é um erro intelectual.

O socialismo é um erro intelectual porque é impossível que o órgão planejador encarregado de exercer a coerção para coordenar a sociedade obtenha todas as informações de que necessita para fornecer um conteúdo coordenador às suas ordens. Este é o grande paradoxo do socialismo, e o seu maior problema. O planejador da economia necessita receber um fluxo ininterrupto e crescente de informação, de conhecimento e de dados para que seu impacto coercivo — a organização da sociedade — tenha algum êxito.

Mas é obviamente impossível uma mente ou mesmo várias mentes obterem e processarem todas as informações que estão dispersas na economia. As interações diárias entre milhões de indivíduos produzem uma multiplicidade de informações que são impossíveis de serem apreendidas e processadas por apenas um seleto grupo de seres humanos.

Os teóricos da Escola Austríaca de Economia, Mises e Hayek, elaboraram quatro argumentos básicos no debate que mantiveram durante a primeira metade do século XX contra os teóricos da economia neoclássica, os quais nunca foram capazes de entender o problema inerente ao socialismo.

E por que não foram capazes de entendê-lo? Pelo seguinte motivo: eles acreditavam que a economia funcionava exatamente como nos livros-textos de faculdade. Mas o que os livros-textos ensinam em relação ao funcionamento da economia de mercado é radicalmente falso e fictício. Tais manuais baseiam suas explicações sobre o mercado em termos matemáticos que supõem um ajuste perfeito. É como se o mercado fosse uma espécie de computador que ajusta de maneira automática e perfeita os desejos dos consumidores à ação dos produtores. O modelo ideal dos manuais é o da concorrência perfeita, descrito pelo sistema de equações simultâneas de Walras.

Quando era universitário, minha primeira aula de economia foi com um professor que começou sua explanação com a seguinte e espantosa frase: "Suponhamos que todas as informações sejam conhecidas". E logo em seguida ele se pôs a encher o quadro-negro com funções, curvas e fórmulas. Esta é exatamente a hipótese da qual partem os neoclássicos: todas as informações são conhecidas e nada se altera; tudo é estático. Mas esta hipótese é radicalmente irreal. Ela vai contra a característica mais típica do mercado: a informação nunca é conhecida por todos; ela está dispersa pela economia. Ela não é um dado constante que está ali para ser consultado a qualquer momento. O conhecimento dos dados surge continuamente em decorrência da atividade criativa dos empresários: novos fins são almejados, novos meios são criados e utilizados. Logo, qualquer teoria econômica construída a partir deste pressuposto irreal está fatalmente errada.

Os economistas neoclássicos pensaram que o socialismo era possível porque supuseram que todos os dados necessários para elaborar o sistema de equações simultâneas de Walras e encontrar sua solução eram "conhecidos". Não foram capazes de apreciar o que ocorria neste mundo que tinham de investigar cientificamente; por conseguinte, não conseguiram entender o que realmente se passava.

Somente a Escola Austríaca seguiu um paradigma distinto. Ela nunca supôs que as informações já estavam dadas e eram conhecidas por todos. Ela sempre considerou que o processo econômico era impulsionado por empresários que continuamente incorrem em transações e descobrem novas informações. Somente ela foi capaz de entender e explicar que o socialismo era um erro intelectual. Ela desenvolveu seu argumento utilizando quatro enunciados: dois podem ser considerados "estáticos" e os outros dois podem ser considerados "dinâmicos".

Em primeiro lugar, a Escola Austríaca afirma, como já dito, ser impossível o órgão planejador coletar e utilizar corretamente todas as informações de que necessita para imprimir um conteúdo coordenador às suas ordens. O volume de informações que os seres humanos manejam e com as quais lidam diariamente é imenso, de modo que é impossível gerir o que sete bilhões de seres humanos têm na cabeça. Embora os neoclássicos não tenham sequer conseguido entender este argumento, ele é o mais fraco e o menos importante. Ao fim e ao cabo, nos dias de hoje, com toda a capacidade informática existente, é um pouco mais fácil lidar com volumes imensos de informação.

O segundo argumento é muito mais profundo e contundente. A informação com que lida o mercado não é objetiva; não é como a informação que se encontra impressa em um catálogo. A informação empresarial possui uma natureza radicalmente distinta; ela é uma informação subjetiva, e não objetiva. Ela é tácita, por assim dizer. Ela é do tipo "sabemos algo, temos a técnica, a prática e o conhecimento, mas não sabemos no que tudo isso consiste detalhadamente."

Explicando de outra forma: é como a informação necessária para andar de bicicleta. É como se alguém quisesse aprender a andar de bicicleta estudando as fórmulas físicas e matemáticas que expressam o equilíbrio que mantém o ciclista enquanto ele pedala. O conhecimento necessário para saber andar de bicicleta não é adquirido desta forma, mas sim mediante um processo prático de aprendizagem, normalmente bem acidentado, que finalmente permite entender como se equilibra sobre uma bicicleta, além de detalhes fundamentais, como o de que, ao fazermos as curvas, temos de nos inclinar para não cairmos. É bem provável que Miguel Indurain desconheça os detalhes das leis da física que o permitiram vencer o Tour de France por cinco anos consecutivos, mas ele indubitavelmente possui o conhecimento de como se anda em uma bicicleta.

A informação implícita não pode ser moldada de maneira formalizada e objetiva; tampouco pode ser transmitida corretamente a um órgão planejador. Só é possível transmitir a um órgão planejador — de modo que este assimile e imponha uma coerção, dando um conteúdo coordenador às suas ordens — uma informação unívoca que não dê brechas a mal entendidos. Porém, a esmagadora maioria das informações das quais dependemos para sermos bem-sucedidos em nossas vidas não é objetiva; não é informação de catálogo. É informação subjetiva e tácita.

Mas estes dois argumentos — que as informações são extremamente volumosas e que possuem um caráter subjetivo — não bastam. Existem outros dois, de caráter dinâmico, que são ainda mais contundentes e cuja implicação inevitável é a impossibilidade do socialismo.

Nós seres humanos somos dotados de uma inata capacidade criativa. Continuamente descobrimos coisas "novas", almejamos objetivos "novos", e escolhemos meios "novos" para alcançá-los. É impossível transmitir a um órgão planejador a informação ou o conhecimento que ainda não foi "criado" pelos empresários. O órgão planejador pode se empenhar o quanto quiser em construir um "nirvana social" por meio de uma publicação diária de decretos e da imposição da força. Mas, para fazer isso — ou seja, para se alcançar o "nirvana social" — ele tem de saber exatamente o que ocorrerá amanhã. E o que vai ocorrer amanhã dependerá de uma informação empresarial que ainda não foi criada hoje, e que não pode ser transmitida ainda hoje para que nossos governantes nos coordenem eficientemente amanhã. Este é o paradoxo do socialismo, a terceira razão.

Mas isso ainda não é tudo. Existe um quarto argumento que é definitivo. A própria natureza do socialismo — que, como dito, se baseia na coerção, no impacto coercivo sobre o corpo social ou a sociedade civil — bloqueia, dificulta ou impossibilita a criação empresarial de informação, que é precisamente aquilo de que necessita o governante para dar um conteúdo coordenador às suas ordens.

Esta é a demonstração em termos científicos do motivo de o socialismo ser teoricamente impossível. É impossível o órgão planejador socialista coletar, apreender e colocar em prática todas as informações de que necessita para imprimir um conteúdo coordenador aos seus decretos. Esta é uma análise puramente objetiva e científica.

Não é necessário pensar que o problema do socialismo está no fato de que "aqueles que estão no comando são maus". Nem mesmo anjos, santos ou seres humanos genuinamente bondosos, com as melhores intenções e com os melhores conhecimentos, poderiam organizar uma sociedade de acordo com o esquema coercivo socialista. Ela seria convertida em um inferno, já que, dada a natureza do ser humano, é impossível alcançar o objetivo ou o ideal socialista.

Todas estas características do socialismo têm consequências que podemos identificar em nossa realidade cotidiana. A primeira é seu poder de encanto. Em nossa natureza mais íntima, sempre encontramos o risco de ceder ao socialismo porque seu ideal nos tenta, porque o ser humano sempre tende a se rebelar contra sua natureza. Viver em um mundo cujo futuro é incerto é algo que nos inquieta, e a possibilidade de controlar este futuro, de erradicar a incerteza, nos atrai.


Em seu livro A Arrogância Fatal, Hayek diz que, na realidade, o socialismo é a manifestação social, política e econômica do pecado original do ser humano, que é a arrogância. O ser humano sempre teve o devaneio de querer ser Deus — isto é, onisciente. Por isso, sempre, geração após geração, temos de estar em guarda contra o socialismo, continuamente vigilantes, e entender o fato de que nossa natureza é criativa, do tipo empresarial.

O socialismo não é uma simples questão de siglas, abreviações, sindicatos ou partidos políticos em determinados contextos históricos. O socialismo é uma ideia que está e sempre estará se infiltrando de maneira insidiosa em famílias, comunidades, bairros, igrejas, empresas, movimentos, partidos políticos de todas as ideologias etc. É necessário lutar continuamente contra a tentação do estatismo porque ele representa o perigo mais original que há dentro dos seres humanos, nossa maior tentação: crer que somos Deus.

O socialista acredita ser genuinamente capaz de superar o problema da impossibilidade da coleta, da apreensão e da utilização de informações dispersas, problema esse que desacredita totalmente a essência do sistema que ele defende. Por isso, o socialismo sempre decorre do pecado da soberba intelectual. Por trás de todo socialista há um arrogante, um intelectual soberbo. E isso é algo fácil de constatarmos ao nosso redor.

O socialismo não é somente um erro intelectual. É também uma força verdadeiramente antissocial, pois sua mais íntima característica consiste em violentar, em maior ou menor escala, a liberdade empresarial dos seres humanos em seu sentido criativo e coordenador. E, como é exatamente isso o que distingue os seres humanos dos outros seres vivos, o socialismo é um sistema social antinatural, contrário a tudo o que o ser humano é e aspira a ser.





Por Jesús Huerta de Soto
Professor de economia da Universidade Rey Juan Carlos, em Madri, é o principal economista austríaco da Espanha. Autor, tradutor, editor e professor, ele também é um dos mais ativos embaixadores do capitalismo libertário ao redor do mundo. Ele é o autor de A Escola Austríaca: Mercado e Criatividade Empresarial, Socialismo, cálculo econômico e função empresarial e da monumental obra Moeda, Crédito Bancário e Ciclos Econômicos.

sábado, 19 de setembro de 2015

O Plano D de Deseducação



Na crise provocada pela má gestão populista, os que sofrerão mais serão a educação, a saúde e os empregos


Então tá. O governo não tem mais onde cortar. Quem explicou, com todas as letras, foi Edinho Silva. Ah, 90% dos brasileiros não sabem quem é Edinho Silva? É o ministro da Comunicação. O governo não tem Plano B para o ajuste. Faz sentido. Nunca teve Plano A, nem Plano X Y Z. Sempre teve o Plano D, de Dilma. E foi o que levou à falência nosso sonho de desenvolvimento responsável. Nem me refiro hoje a falência econômica. Passo a palavra a outro ministro, o da Educação, Renato Janine Ribeiro.

“Queremos que todos saibam do drama. É inaceitável em termos sociais”, disse Janine. Drama social? Depois de quase 13 anos de governo do Partido dos Trabalhadores, com o pai dos pobres e a mãe do PAC? O drama da deseducação não foi criado ontem. Não foi provocado pelos Estados Unidos, pela Europa ou pela China. Na “pátria educadora” de Dilma, alunos do ensino fundamental público vão mal nas três habilidades, leitura, escrita e matemática. É o que mostra um estudo oficial com 2,5 milhões de estudantes.

A pátria que deseduca

Os números são implacáveis. Um em cada cinco alunos (22,2%) do 3º ano não entende o que lê. Outros 34% encontram algum sentido, desde que a informação mais importante esteja na primeira linha do texto. Na escrita, o mesmo cenário. Mais de um quarto dos alunos do 3º ano não aprendeu a escrever direito. Ou não sabe escrever palavras (11,64%) ou troca e omite letras, sem conseguir produzir frases legíveis (mais 15,03%). Em matemática, um quarto (24,29%) não soma, com três algarismos, e não subtrai, com dois algarismos. O ministro Janine afirmou que o cenário da má alfabetização é “assustador”.

O Maranhão do clã Sarney e o Alagoas de Collor são dois líderes no mau desempenho. Mais de 40% das crianças do Maranhão estão no pior nível de leitura. Não conseguem ler nem uma sentença. É o resultado do slogan “tudo pelo social” criado pelo ex-presidente da República José Sarney e perpetuado por sua filha Roseana. Não entendo como um político que deixa uma herança tão maldita em seu Estado, com a ajuda prestimosa da filha, faz questão de batizar avenidas, pontes, hospitais e prédios públicos com seu nome.

É a vaidade cega. Ao ser eleito em 2002,  Lula dizia que sua prioridade número 1 seria resgatar a dívida social, principalmente na educação e na saúde. Podia falhar em tudo, menos nisso. Cientistas políticos que vestiram a estrela diziam que seria até irônico o PT fracassar no investimento social e na geração de empregos. Agora, na crise provocada pela má gestão populista e pela irresponsabilidade, os que sofrerão mais serão a educação, a saúde e os empregos. Ninguém sabe fazer conta?

Nosso Estado inchado não fez e não faz as reformas necessárias, não mexe nos interesses sagrados dos partidos e não entrega os serviços merecidos pela população. Falha em todas as habilidades. Viola a Constituição ao não garantir os direitos básicos de cidadania. Ministro Janine, tem jeito de ensinar leitura, escrita e matemática ao Planalto?

Soneto da Educação

Quem defende maior carga tributária no Brasil com o argumento de que os europeus descontam mais Imposto de Renda fecha os olhos para a realidade brasileira. Em primeiro lugar, europeu matricula filho em escola pública, se interna em hospital público e usa transporte público. Tudo com dignidade. O brasileiro sabe que o buraco aqui é mais embaixo: a arrecadação dos impostos não ajuda a si próprio nem aos mais carentes.

Já que estamos no abecedário da crise, vejamos o que o brasileiro paga. IPI, IOF, ISS, Cofins, IPVA, IPTU, DPVAT, Darf, Simples, Supersimples, DAE, Cide, ICMS, INSS, Rais, imposto sindical, taxa de incêndio, taxa do lixo, sobretaxa de água, bandeira vermelha para energia elétrica, taxa de estacionamento urbano, tributação rural. E agora a CPMF.

Peço desculpas por não expandir cada sigla. Mas não teríamos espaço numa página impressa. Fora o que pagamos para a máfia dos cartórios no Brasil, em dinheiro, tempo e estresse. Não podemos dar um passo sem “reconhecer firma”, sem provar que somos quem somos. Para enriquecer quem exatamente?

A cultura do desrespeito

O Plano D, de Dilma em Desespero, pede o maior esforço ao contribuinte. Ressuscita o fantasma da CPMF, com o objetivo nobre de “ajudar os aposentados”. Se você é contra a CPMF, então é “contra os velhinhos”. As chantagens sucessivas de Dilma a tornam impopular com todos os setores da população.

É curioso. Ninguém hoje fala mais em “golpe” ou em “veredicto das urnas” que a presidente. Uma obsessão típica de quem se sente acuada. As contas de Dilma podem até ser aprovadas com ressalva pelo TCU, mas ela foi reprovada com louvor no ofício de “presidenta”. Eduque as crianças, Dilma, se ainda tiver tempo. É o mínimo.










Por Ruth de Aquino

Ensino brasileiro: máquina de produção de analfabetos funcionais

           

Parabéns, Paulo Freire, você conseguiu destruir de vez com a educação nacional!

Uma reportagem no GLOBO de hoje (19) expõe bem aquilo que todos já sabem: o fracasso do ensino brasileiro, principalmente o público. Ele não passa de uma máquina de produção de analfabetos funcionais, que são sabem ler, escrever ou fazer conta, mesmo anos depois de frequentar as escolas. Isso tudo, não custa lembrar aos que clamam por mais recursos públicos, com o governo brasileiro gastando o mesmo que a média da OCDE em relação ao PIB, ou seja, não é problema de falta de verba, e sim de mau uso dela. Vejam o resultado:

Boa parte dos alunos no 3° ano do ensino fundamental brasileiro não entende o que lê. De acordo com a Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), divulgada nesta quinta-feira, 22,21% dos estudantes de escolas públicas nessa fase da educação foram classificados no “nível 1″, o mais baixo de uma escala que vai até o “nível 4″. Segundo os critérios estipulados para o “nível 1″, essas crianças conseguem ler as palavras, mas não são capazes de compreender o que diz o texto diante delas.

Ainda segundo os resultados da ANA, 34% dos alunos estão no “nível 2″. Eles compreendem o sentido do texto, mas não são capazes de encontrar uma informação explícita quando a mesma está no meio ou no final desse texto. De acordo com a avaliação, 32% das crianças estão no “nível 3″ e apenas 11,2% estão no “nível 4″.

[…]

No que diz respeito à escrita, a ANA aponta que 34,46% dos dessas crianças não conseguem escrever um texto adequado ao que foi proposto. O resultado é a soma dos três primeiros níveis de aprendizagem. Na faixa 1, a mais baixa, estão 11,64% dessas crianças. Neste patamar elas não conseguem escrever palavras e relacionar os sons às letras. No nível 5 (índice ideal), há somente 9,88% dos estudantes, o que significa que sabem atender à proposta e escrevem textos com maior complexidade, embora possam ocorrer erros ortográficos e de pontuação.


Fonte: GLOBO




Não há como ver esses dados e não “parabenizar” o patrono da educação brasileira, o comunista Paulo Freire, não é mesmo? Com sua visão marxista transportada para dentro das salas de aula, Freire criou uma legião de “pedagogos” e “professores” cuja meta não era mais transmitir conhecimento objetivo para a garotada, ensiná-la a ler direito, a fazer cálculos, nada disso! Essas coisas eram “opressoras” demais, instrumentos de uma elite burguesa que desejava perpetuar o injusto sistema capitalista.

Daquele momento em diante os professores teriam mais “humildade” para reconhecer que não eram detentores de um saber superior, e que poderiam ensinar às crianças analfabetas e pobres tanto quanto elas poderiam lhes ensinar. Era uma linda via de mão dupla, onde “nós pega os peixe” é tão correto como “nós pegamos os peixes”, já que ninguém é dono da razão.

Além disso, muito mais importante do que ensinar esses “preconceitos burgueses” era “conscientizar” esses alunos da luta social, das injustiças do mundo capitalista. Em suma, criar um exército de repetidores dos slogans marxistas. Deu certo! A turma não aprende a ler, não sabe escrever, e muito menos fazer contas complexas (o que talvez explique as demandas sempre por mais estado, sem levar em conta os rombos fiscais). Mas como cospe no capitalismo e elogia o socialismo!

Freire merece uma estátua em sua homenagem, de preferência no Maranhão ou no Piauí, nos estados mais pobres (e analfabetos) em que os alunos estão blindados contra todo tipo de “doutrinação” burguesa capitalista. Se não quiserem fazer uma estátua para o barbudo comunista lá, que ao menos façam uma em Cuba, sua grande inspiração ideológica. O Brasil tem o patrono da educação que merece, e o resultado está aí. Não seria hora de buscar uma alternativa mais… burguesa e capitalista?





Por Rodrigo Constantino

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

E agora, José?



                                                     O governo se esconde do povo.

Não há mais público para defensores do governo. Fica chato fazê-lo e assinar embaixo.


Eu sei, eu sei. De repente a vida ficou pesarosa e irritante para quem viveu décadas surfando na utopia. Aquele discurso socialista tinha a leveza de um sonho erótico e excitava no contraste com a realidade, coitada - encardida, feia e banguela. Vendia-se utopia no vidro traseiro dos carros. Vendia-se em camisetas, bandeiras e alto-falantes. Nos microfones, púlpitos e salas de aula. Nas charges e colunas de jornal. Era fácil de anunciar e barata de comprar. Haveria, logo ali, um novo céu, uma nova terra e um homem novo. Onde? Como? Era tão simples! Tudo se resumia em Lula-lá!

Tenho bem presente a Constituinte de 1988, os anos 90 e, principalmente, os gozos cívicos que marcaram a chegada de Lula ao poder. Uns poucos, entre os quais eu, antevíamos o que estava por vir. Assim como era inevitável a vitória da utopia sobre a realidade, era inevitável o desastre que sobreveio devagar, incontornável. Desastre moral, institucional, fiscal, econômico, cultural. Desastre que atinge todos os objetivos permanentes de qualquer sociedade civilizada: ordem, justiça, liberdade, segurança e progresso. Nada simboliza melhor o colapso de um projeto impulsionado pela ingenuidade de uns e a vaidade de outros do que Lula assistindo a Copa de 2014 pela TV, e Dilma no Sete de Setembro de 2015, cercando-se com as autoridades numa espécie de campo de concentração às avessas. O governo se esconde do povo.

Então, eu sei, a vida arruinou para quem, nos meios de comunicação, inflou um projeto político que agora se veste de pixuleco. Os propagandistas recolhem seus realejos. Não há mais público para defensores do governo. Fica chato fazê-lo e assinar embaixo. Isso só por muito dinheiro e boa parte dos antigos propagandistas da utopia eram voluntários, rodavam sua manivela por devoção. Vem-me à mente, então, o grande Carlos Drummond de Andrade: "E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José?". Agora, quando o sonho erótico virou desvario masoquista, ainda com o poeta digo a José: "O dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo fugiu e tudo mofou. E agora, José?".

José, coitado, cuida como pode de proteger o indefensável. Ele não mais se aligeira com os porta-estandartes da utopia que não veio. Repare bem nele. Furioso, xinga e ofende quem faz oposição num país que precisa, urgentemente, de rumo e prumo. É feio, mal educado, mas - que remédio? - se a utopia mofou e deu nisso que está aí?




Por Percival Puggina

Poliamor. Ou: Amor nenhum


Na TV e na internet tenho visto algumas propagandas do que chamam “poliamor“. São os relacionamentos com mais de duas pessoas, podendo ser dois homens e uma mulher, duas mulheres e um homem, três homens, três mulheres etc. Segundo seus praticantes e defensores, o amor não tem limites e o afeto não deve ser coibido; se posso amar mais de uma pessoa, por que não? Qual a necessidade de encerrar o sentimento e a prática sexual dentro de um retrógrado combinado a dois, expressão singular dos conservadorismos e crenças fedorentas da humanidade imatura?

O pessoal do poliamor acredita que não há necessidade alguma. Por imaginar que nenhum dos seus defensores lerá este texto, destino o blog aos leitores habituais, a fim de esclarecer ainda mais os motivos que me levam a desconfiar – para dizer o mínimo – desses “arranjamentos amorosos” vigentes entre os participantes dos centros acadêmicos de humanas.

O amor é um dos projetos mais radicais de uma vida humana. Para usar os termos de Julián Marias, nossa espécie é definida também pela capacidade de futurição: todo homem antecipa sua vida; imagina-a, projetando com mais ou menos detalhes aquele que deseja ser e que, por condição mesma da vida, não pode sê-lo no presente. Cada um de nós pode ser compreendido como quem é, atualizado no presente, e quemquer ser, com as imagens de eu e trajetórias pretendidas.

Assim, o argumento biográfico é uma espécie de resultante dramática entre projetos idealizados e realizações concretas. Sou esta pessoa aqui, que já percorreu tais trajetórias e deseja percorrer algumas outras. Por isso, a futurição é um modo de antecipação de si, uma espécie de ensaio da própria vida. Alcançar um grande objetivo, possuir uma profissão, fazer uma viagem, servir um bom prato no jantar, amar alguém: exemplos de atividades humanas que não poderiam acontecer sem um pouco de imaginação e projeção.

Sendo um projeto, o amor tem direção: como ensina o mesmo Julián Marias em sua Antropologia Metafísica,é uma instalação humana com vetores que vão ao encontro do outro (como flechas). Assim como não existe projeto sem um “fim”, não existe amor sem destinatário. Sendo instalação radical – por ser configuradora da existência pessoal – no amor o fim não é um fim, mas um meio. Ao me inclinar em direção a alguém, desejando amá-lo e fazê-lo meu projeto, sinto-me realizado à medida que não termino na relação constituída, mas a partir dela sou outro “a dois”, alterado verdadeiramente pela presença que agora compõe minha realidade radical. Do consentimento amoroso de duas pessoas – do consequente encontro de projetos pessoais – nasce um terceiro projeto que não é mais individual, mas duplo: não sou eu ou fulano que queremos dar certo. Somos nós. A dimensão plural se abre de forma inédita e uma parte do mundo passa a ser conhecida porque agora não vivo mais só. O nascimento de filhos é o símbolo desta “extravasão” que só é possível porque a realidade não “cabe” mais em indivíduos isolados.

Em outras palavras: amar é ir em direção a alguém e querer transformar este mesmo alguém em projeto radical. Amar verdadeiramente é ser alterado por esta projeção a ponto de não ser o mesmo sem aquela pessoa. É o que transparece em diversas entrevistas de Julián Marias quando se refere à esposa (falecida vários anos antes dele). Vi o filósofo espanhol dizer, repetidas vezes (e parafraseando-o): desde que ela morreu já não sou mais eu. Uma parte minha não está mais aqui e por isso sinto-me impedido de ser inteiro quem já fui.

Isto é amor radicalmente falando. A projeção é tão intensa que “compromete” a minha realidade. Não sou mais o mesmo, nem posso ser. A partir do nós um novo projeto nasce – o da felicidade da relação.

Creio que o poliamor é uma fuga desta radical instalação humana. Por não precisar olhar alguém direta e objetivamente, seus adeptos passam a olhar alguns ao mesmo tempo. Evadidos da direção – e da necessidade de escolher e sacrificar-se por um -, perdem-se e confundem-se entre vários olhares, numerosos como os fragmentos de eu de cada um dos envolvidos. Qual é o projeto de cada um dos três ou quatro homens e mulheres da relação poliamorosa? Para onde caminham? Qual o destino deles, não individualmente, mas enquanto corpo constituído? Ainda: se um dos envolvidos sai da relação e outra pessoa entra em seu lugar, o que isto significa? Como é possível alteração radical nestes termos?

Amar é um tipo de decisão que afeta, sempre e primeiramente, duas pessoas. É a porta da verdadeira intimidade, como diria Louis Lavelle, pois um “terceiro” sempre sobra. A experiência coletiva existe e é necessária à vida humana, mas apenas a comunhão a dois é capaz de abrir a porção da realidade tocada somente por nós, amantes de um projeto que rompe os limites do eu e verte-se numa nova realidade dinâmica e afetiva; comprometedora e consoladora.

Numa reunião do Clube do Livro deste ano, quando discutimos a obra Persuasão, de Jane Austen, escrevi sobre o amor e justifiquei, como pude, a razão de ser do encontro entre o homem e a mulher. Transcrevo uma parte daquele ensaio aqui:

“Numa relação amorosa, a oposição disjuntiva entre a mulher e o varão ― e assim desejada pela realidade, de forma estrutural ― condensa simbolicamente as duas formas de estar no mundo do ser humano, como diria Julián Marias. A mulher é aquela que enxerga longe ― nos desdobramentos da relação em que está ―os efeitos na eternidade do amor que mutuamente oferecem. Ela é como o vaso depositário das esperanças do homem, culminando na fecundação de seu útero toda a nova possibilidade característica do amor. Esterilidade é oposto ao amor. Por isso a mulher não deve aceitar posição inferior, que a desinstale deste lugar de privilégio, no qual o velho encontra o novo e a face da terra se renova.

Do mesmo modo, o homem é aquele que luta para realizar-se, exigindo de si mesmo a força necessária para fecundar a vida. É regido por um sol interior que o impele a cumprir, construir, prover no mundo,inexoravelmente masculino. Para o varão, a eternidade é uma morada atraente. A mulher, neste sentido, é o sinal sensível da eternidade que precisa ser conquistada e não perdida. É por isso que é o homem quem vai em direção à mulher, corteja-a como quem ensaia um pedido de casamento com a divindade, entrada para o Paraíso que sempre teme não ser mais seu. Que a realidade tenha feito as coisas desse modo, creio ser indiscutível. Mesmo nas relações homossexuais será necessário que os dois envolvidos exerçam papéis diferentes na hora do sexo. Portanto, a complementaridade é irrevogável. As grandes histórias de amor da literatura, como as de Jane Austen, são símbolos desta tensão existente entre os opostos que, quando felizmente vencem as descontinuidades e infidelidades, dão nascimento a um tipo de encontro ― o mais radical e frutífero entre os seres humanos.”


Este assunto, ou tema da vida humana, renderia outros textos. Prometo voltar a ele num futuro próximo. Por ora, penso ter esclarecido porque o poliamor é amor nenhum.

Ir a muitos destinos é ir a destino algum.




Por Tiago Amorim
Professor e mora em Curitiba (PR). É idealizador do curso “A Vida Humana”(www.avidahumana.com.br) e autor do livro “A Abertura da Alma” (editora Danúbio). Dá aulas no Solar do Rosário e atende em escritório próprio, onde desenvolve um trabalho de aconselhamento individual.

Governo do PT insiste na ideologia de gênero, à revelia do Congresso



Apesar de encontrar enorme resistência no campo legislativo, Governo pretende utilizar o MEC para disseminar a ideologia de gênero nas escolas.


Após a ideologia de gênero ser rejeitada de modo retumbante no Plano Nacional de Educação, bem como nos planos regionais e municipais, o governo do PT insiste na agenda de gênero, instituindo, através do Ministério da Educação,o Comitê de Gênero [http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=16&data=10%2F09%2F2015], no mesmo dia em que a feminista Judith Butler encerrava sua primeira visita ao Brasil. O governo quis com isso expressar seu compromisso com as organizações internacionais, dando apoio a uma agenda que há tempos tais organismos buscam implantar no país, a todo custo e de todo modo, apesar de encontrar enorme resistência no campo legislativo.

Cabe lembrar que tal empenho do governo vem se intensificando ainda mais, e que no Plano Nacional de Direitos Humanos [http://www.jornaluniao.com.br/noticias?noticia=6666] (PNDH3), em 2009, havia decidido abarcar "todas as áreas da administração" e "fato inédito de ele ser proposto por 31 ministérios", "estruturado em seis eixos orientadores, subdivididos em 25 diretrizes, 82 objetivos estratégicos e 521 ações programáticas", feito para ser não uma política de governo, mas a política do Estado brasileiro, com o Ministério da Educação, de modo especial, colocado à frente de tal empreitada para disseminar uma ideologia anárquica, na rede pública de ensino, a contento das fundações internacionais e de agências da ONU, etc.

Tal ideologia é sustentada por organizações que “desfrutam de um retorno financeiro garantido e que se tornaram, no campo da sexualidade humana, uma fonte de lucro e um veículo da secularização planificada”, como explica Dorotas Kornas-Biela, e que o Estado favorece quando capitulado diante de tão vis interesses, que em nada dignificam, mas degradam a pessoa humana.

Diz ainda Kornas-Biela que

“a pornografia, a droga, a prostituição, a contracepção e o aborto são indústrias organizadas, cujo capital é posto a serviço de uma ideologia, que é contra a vida humana, a família e, frequentemente, contra a Igreja Católica. Os objetivos de tais indústrias são a destruição da família e a secularização, para alcançar os meios pelos quais se toleram alguma forma de depravação e violência sexual em relação às crianças. Estas forças operam secretamente no espírito da era pós-moderna. Publicamente, ao invés, o comportamento destas estruturas (mídia, organizações, resoluções tomadas em consequência de conferências nacionais e internacionais) é de forte recusa em relação a violência sexual contra as crianças, todavia, não é por acaso que este fenômeno, nas suas formas de depravação, está em contínuo aumento”.

Urge portanto que Comitê de Gênero, criado pelo MEC [http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/09/mec-cria-comite-de-genero.html], seja questionado pelo Congresso Nacional, ainda mais tendo em vista de que o parlamento brasileiro votou contra a ideologia de gênero no Plano Nacional de Educação, pois aceitar a existência desse comitê é atentar contra a própria democracia, capitulando-se diante do Executivo, que age, dessa forma, à revelia do Legislativo. É preciso então a soma de esforços para mobilizar novamente os parlamentares e outros tomadores de decisão, para não apenas questionar o Ministro da Educação, como para vetar tal iniciativa.






Por Hermes Rodrigues Nery
Especialista em Bioética (PUC-RJ), é presidente da Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família, .