quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Repensar a Educação



Hoje é o Dia do Professor. Como homenagem a todos aqueles que efetivamente tentam ensinar, transmitir conhecimento aos outros, especialmente a pensar por conta própria, a absorver conhecimento objetivo, a questionar com embasamento, segue o prefácio que escrevi para o livro Repensar a Educação, de Inger Enkvist, lançado em versão eletrônica pela Bunker Editorial hoje mesmo.

Resgatando os alunos das garras dos pedagogos sociais

Se o leitor estiver satisfeito com a qualidade do ensino no país, público ou privado, e acreditar que nossas crianças estão em ótimas mãos nas salas de aula, absorvendo cada vez mais conhecimento objetivo e bebendo na cultura universal, então nem precisa ler esse livro: não se trata de uma cura milagrosa para a cegueira.

Agora, se o leitor concordar que a situação da educação é lamentável e preocupante, que cada vez mais os valores dentro e fora das escolas se encontram subvertidos, então o livro de Inger Enkvist é leitura obrigatória, pois explica em detalhes quais são as origens dos problemas e apresenta propostas concretas para solucioná-los.

A autora condena com bastante propriedade as novas tendências pedagógicas que vêm tomando conta do mundo todo. Mas seu livro é mais do que um combate à pedagogia social nas salas de aula; é um libelo em defesa da verdadeira e clássica educação em sentido mais abrangente, aquela que ensina alguém a ser adulto, a amadurecer com maturidade e responsabilidade.

É função dos adultos transmitir o legado da civilização aos seus descendentes, pois não se absorve isso automaticamente. Como diz Inger, “Em nenhuma ocasião histórica sobreviveu um grupo que não tenha sido capaz de formar a geração que lhe sucedia”. Mas será que as novas gerações estão sendo bem formadas? Ou estariam elas, em nome de uma pretensa “liberdade” plena, sendo deformadas?

O que vemos em quantidade cada vez maior são adolescentes indisciplinados, rebeldes, agressivos, e com péssima formação intelectual e cultural. A ausência de limites é a marca registrada da geração que merece a alcunha de “mimimi”, pois, mimada ao extremo, confunde desejos com direitos. Afinal, “um jovem que não entende o conceito de limite se torna insolente e insuportável”.

As escolas possuem uma função sagrada na formação social e moral de uma sociedade. Os professores já foram vistos com imenso respeito no passado, pois eram os responsáveis por transmitir conhecimento aos mais jovens. Hoje, por tudo que é lado, esses jovens aprendem a desprezar a própria sociedade, a cuspir em toda hierarquia, a afrontar o próprio professor. Aprendem desde cedo que podem agir com total impunidade, arrogância e desprezo pelas autoridades. Não há como sobreviver dessa forma, ao menos não preservando valores básicos de uma civilização que mereça tal rótulo.

Várias são as origens do problema apontadas pela autora. O romantismo nos moldes de Rousseau, que encara a criança como “pura” e a civilização como corrompida; o construtivismo, que delega ao próprio aluno a busca do saber e confunde aprendizado com diversão; o relativismo, que nega o próprio conhecimento objetivo e a possibilidade de alcançar verdades; o igualitarismo, que rejeita a realidade de que somos desiguais em nossas habilidades e capacidades; o multiculturalismo, que é o relativismo estendido às culturas, impedindo a valorização das próprias tradições; etc.

Vivemos na era do narcisismo exacerbado, com crianças cada vez mais autocentradas, julgando-se o “centro do universo”, extremamente egoístas e hedonistas. O foco no esforço a longo prazo não é ensinado; em seu lugar, há uma crescente tolerância com tudo que é “diferente”, o que na prática se traduz em enaltecer a mediocridade. Nas escolas de hoje vemos uma espécie de “vale tudo”, em que a cobrança dá lugar à vitimização dos que não são capazes de acompanhar o ritmo dos demais alunos.

O que ocorreu foi uma exportação da luta de classes marxista para dentro das escolas, que passaram a ser vistas não mais como um local de aprendizagem e superação individual, mas como instrumento opressor e de doutrinação pelas elites burguesas. O filósofo Foucault tem tudo a ver com isso, e recebe duras criticas da autora. Só senti falta do nome de nosso “ilustre” pedagogo dos oprimidos, Paulo Freire, pois o estrago que suas ideias equivocadas causaram não ficou limitado às fronteiras nacionais. Ele merecia uma honrosa menção na lista dos culpados.

Enkvist fulmina: “A escola já não ajuda os incultos a tornarem-se cultos, mas faz com que acreditem que são cultos. A diferença entre o inculto de antes e o de hoje se baseia no fato de que o primeiro sabia que não era culto. Agora se trata de bajular o inculto”. Ao destruir a tradição, o estoque acumulado de conhecimento objetivo, os clássicos, a educação moderna contribui para a destruição da própria cultura. E faz isso em nome da “democratização” do ensino, o que é pior.

Como lembra a autora, os comunistas, em especial os maoístas, foram mestres na arte de atacar o intelectualismo, e os assassinos do Khmer Vermelho chegaram a dizimar qualquer um no Camboja que aparentasse algum sinal de cultura superior. Dizem que bastava usar óculos para ser considerado perigoso e correr o risco de ser morto pela fúria dos igualitários ressentidos. É a obsessão de nivelar por baixo que acaba destruindo qualquer civilização. Pura idealização da inveja.

“Estamos diante de uma mística social que quer ‘construir’ um novo homem, com menos conhecimentos, mas com atitudes mais igualitárias”, resume a autora. A seita dos pedagogos sociais avança, e com ela o rastro de destruição da verdadeira educação, liberal e clássica. Esse livro que o leitor tem em mãos representa uma importante munição na resistência contra tal ataque niilista. É preciso resgatar nossos alunos das garras dos pedagogos! 




Por Rodrigo Constantino

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