terça-feira, 21 de outubro de 2014

Amigos petistas (sim, ainda tenho alguns)


"Amigos petistas (sim, ainda tenho alguns) dizem que votam no PT por causa das suas políticas sociais.

É um argumento bonito: não há pessoa com um mínimo de sensibilidade e compaixão que possa ser contra políticas de inclusão social, especialmente num país desigual como o nosso.
A questão é que ele parte do princípio de que o PT detém o monopólio das boas intenções sociais, e aí entramos na área da desqualificação do adversário, da qual o partido tanto entende. Em momento algum Aécio ou o PSDB afirmaram que pretendem mudar o que já se conquistou; mas a propaganda do PT insiste nisso e pronto, basta a palavra de João Santana para transformar o que jamais foi dito em verdade sacramentada.

Outro problema com este argumento é que, por melhores que sejam as intenções sociais de quem quer que seja, elas não existem fora de um contexto mais amplo. Sem dinheiro não se faz nada, nem bom ensino, nem boa saúde, nem distribuição de renda. Simplesmente não há política social que consiga se manter, a médio ou longo prazo, diante de uma economia desastrosa como a do governo Dilma.

Eu poderia até dizer, parafraseando os meus amigos petistas, que não voto no PT justamente porque prezo as conquistas sociais do país, e não quero que elas desapareçam levadas por uma política econômica que vai de mal em pior.

Mas não é só isso.

Entre outros incontáveis motivos, não voto no PT porque tenho vergonha do papel que o meu país está fazendo no cenário internacional, abraçando ditaduras obsoletas, financiando tiranos e dando apoio a terroristas.

Ao contrário de tanta gente que apoia o partido, eu não acho que democracia seja essencial só para nós brasileiros, mas desnecessária para iranianos, cubanos ou venezuelanos. Eu quero que todo mundo tenha as mesmas prerrogativas que eu tenho, quero que todas as pessoas do mundo possam viver e respirar em ambientes de liberdade, dizendo o que têm vontade de dizer sem risco de desaparecer no dia seguinte.

Eu quero ouvir a voz do meu país denunciando ditaduras, e não compactuando com elas.

Passei muitos anos da minha vida lutando por liberdade no Brasil e pedindo uma imprensa livre. Na minha cabeça, não faz o menor sentido votar, agora, num governo que apoia regimes que perseguem seus cidadãos por crimes de opinião -- e que, vira e mexe, fala em "democratizar" a mídia.

Eu já vi este filme há muitos e muitos anos, e não gostei."



Por Cora Ronai

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