domingo, 28 de setembro de 2014

O Estado Islâmico e a Barbárie Religiosa



Por Johnny Bernardo (*)

O Estado Islâmico (IL) é a maior ameaça dos últimos tempos. Dentro da projeção religiosa, de como a religião se comportará em um futuro não muito distante, temos lampejos de como a sociedade global se constituirá. Primeiro: nos próximos 50 anos o mundo passará por um grande progresso científico e tecnológico. Segundo: problemas de ordem social, como violência, conflitos armados, desestruturação das famílias, depressão e isolamento social serão profundamente acentuados. Terceiro: novas opções religiosas, extremistas, levarão o homem de volta à barbárie.

Nascido de questões não resolvidas, de pontas não amarradas, o Estado Islâmico nos oferece uma breve compreensão do que o mundo passará nas próximas décadas. O conceito de Albert Einstein, de que o universo está em constante expansão e que, ao final do ciclo expansionista deverá retroceder ao ponto original, se não aceito do ponto de vista criacionista, é plenamente aplicável no âmbito sociológico. A humanidade continuará a se expandir, a ocupar todos os espaços disponíveis da Terra, a consumir todos os recursos naturais, a aprofundar as já acentuadas disparidades sociais, até começar a retroceder, a levar o homem de volta ao período da barbárie. A atuação do IL, entre o norte sírio e o leste iraquiano, é um claro exemplo do retorno ao primitivismo bárbaro.

A religião acima do Estado. A fé acima dos direitos. Como explicar atitudes tão cruéis, tão malévolas, de desrespeito aos direitos constitucionais, das pessoas, se vivemos em um período republicano, de globalização do conhecimento e da informação? Como explicar o sequestro de mulheres, a operação de seus clitóris, a decapitação de jornalistas e o cerramento de crianças senão entendermos a atuação do IL como um retorno ao primitivismo animal, grotesco, desumano, em que a ausência da lei, de uma constituição, de uma ordem, permitia excessos de crueldade, de olho por olho e dente por dente? Vide as incursões bárbaras dos Assírios, dos Persas, dos Romanos etc. Centenas de mortes, de empilhamento de crânios em forma de muralhas aterrorizantes. Barbárie!

Esperávamos que a ciência, a tecnologia, a república nos levaria a idade das luzes, a um novo renascimento social, mas pontas-soltas ainda são vistas por aí, cada vez maiores, mais destruidoras, mais aterrorizantes. Somos bárbaros por natureza, participes da natureza pecaminosa do primeiro homem, suscetíveis à raiva e ao ódio do primeiro homicida. Mas o que regula a natureza humana, além da influência divina? A Lei, obviamente. Imaginemos como seria o mundo sem as leis, sem os mecanismos que regulam a humanidade, sem os limites colocados pelas constituições? Caos. Atrocidades. Desordem. Pânico. Lembrando que o Caos é o inverso da Ordem. Nova Orleans e recentemente Ferguson viveram lampejos da barbárie, do pânico gerado pela ausência do Estado. Para vencer a fome, saques em Nova Orleans. Para sobreviver ao ódio e ao racismo, enfrentamento, depredação e repressão em Ferguson, no Missouri, nos Estados Unidos.

O Estado Islâmico espalha terror por onde passa, reprime os direitos dos civis, impõe taxas exorbitantes a comerciantes e a fabricantes, impõe toque de recolher. Seu objetivo é criar de fato um Estado regido pela Sharia (lei islâmica). Para isso acreditam ser preciso subjugar os inimigos. Assassinar famílias que professem o cristianismo. Apesar de esforços internacionais, talvez seja tarde para que o Estado Islâmico seja erradicado, como observa o pesquisador do Centro de Estudos de Radicalização do King’s College, de Londres, Shiraz Maher. Segundo o pesquisador, qualquer ação contra o EL pode levar anos e é possível que o grupo continue atuando. Mesmo com a destruição do EI, novos grupos extremistas surgirão nas próximas décadas, mais ferozes e cruéis. A humanidade tem de ser preparar porque os indícios apontam para um futuro bárbaro e devasso.


(*) Pesquisador, jornalista, colaborador de diversos meios de comunicação e licenciando em Ciências Sociais pela Universidade Metodista de São Paulo. Há mais de dez anos dedica-se ao estudo de religiões e crenças, sendo um dos campos de atuação a religiosidade brasileira e movimentos destrutivos.

Nenhum comentário: